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Austrália tem ecossistema fóssil de 3,5 bilhões de anos
"Recife" primitivo feito por micróbios é a evidência mais antiga de vida na Terra
Achado indica que seres
vivos primordiais preferiam
ambiente marinho ameno e
que vida já era diversificada
desde o início da evolução
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Encontrar um fóssil de 3,5 bilhões de anos, a primeira evidência direta de vida na Terra, é
um evento raro. Descobrir um
ecossistema inteiro com essa
idade, então, é quase inacreditável. Tão inacreditável que levou três anos para que cinco
cientistas australianos conseguissem provar sua existência.
Os pesquisadores fizeram
um mapeamento inédito de
uma formação rochosa emblemática em Pilbara, Austrália,
formada por estromatólitos.
Grosso modo, estromatólito é
uma rocha formada por tapete
de limo produzido por micróbios no fundo de mares rasos,
que se acumula até formar uma
espécie de recife.
Já se conhecia há mais de 20
anos a presença de estromatólitos no chamado sílex de Strelley Pool, uma formação rochosa de Pilbara datada do início
do Período Arqueano (cerca de
3,5 bilhões de anos atrás).
Alguns cientistas sugeriram
que aquele sílex tivesse origem
biológica. Seria a evidência fóssil mais velha de vida na Terra.
Essas afirmações eram contestadas por pesquisadores que diziam que os estromatólitos haviam sido formados por chaminés vulcânicas, sem envolver
interação com seres vivos.
O tira-teima coube ao grupo
liderado pela geóloga Abigail
Allwood, da Universidade Macquairie. Sua missão foi ir a campo inspecionar uma seção de 10
km da formação Strelley Pool
-e fazer a pergunta às rochas.
"Gastamos três anos, muita
sola de sapato e muito pneu de
4x4 para identificar e ter acesso
aos afloramentos mais remotos", disse Allwood à Folha. O
trabalho compensou: na edição
de hoje da revista "Nature", ela
e colegas mostram que é praticamente impossível, quando se
olha a formação inteira, supor
que os estromatólitos de Pilbara tenham origem inorgânica.
Para começo de conversa, o
grupo descobriu que os estromatólitos se formaram quase
simultaneamente em toda a região, num intervalo de 80 milhões de anos. O período coincide com o fim da atividade vulcânica que um dia houve ali -e
com o início de condições que
Allwood compara com as da
Grande Barreira de corais australiana: mares rasos e águas
claras, ideais para organismos
que fazem fotossíntese.
Mas o ponto crucial do levantamento foi a identificação
de pelo menos sete tipos diferentes de estromatólito em Pilbara. Alguns são ondulados e
lembram massa folhada; outros, caixas de ovo; outros, ainda, montes em forma de cone.
As variações de forma aconteciam de acordo com variações
do ambiente ao longo do "recife" de micróbios. Hoje se conhece vários gêneros diferentes de cianobactéria (um micróbio que faz fotossíntese) capazes de produzir tais formas.
Por outro lado, é difícil imaginar sete mecanismos abiogênicos capazes do mesmo feito.
"O que nós temos não é mais
um fóssil a dar evidência de que
a vida existiu naquela época,
mas um ecossistema inteiro
que dá uma visão real da vida
primitiva", disse Allwood.
O que pode ter implicações
para as teorias sobre a origem
da vida. Segundo ela, o ecossistema fossilizado indica que os
primeiros seres vivos, diferentemente do que se achava, não
preferiam condições extremas,
como chaminés vulcânicas.
"Eles floresceram durante uma
pausa na atividade hidrotermal, preferindo condições marinhas "normais"."
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