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MEDICINA
Proteína da gardênia pode virar droga contra diabetes
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um trabalho unindo biologia molecular avançada e
medicina tradicional chinesa
resultou em uma descoberta
que pode render uma droga
contra o diabetes tipo 2. Pesquisadores da Escola Médica
de Harvard, nos EUA, e da
Universidade de Nanquim,
na China, encontraram em
frutos da planta da gardênia
uma proteína que promove a
produção de insulina.
A genipina, molécula encontrada no vegetal, atua
bloqueando a enzima UCP2,
que normalmente inibe a atividade das chamadas células
beta, as produtoras de insulina no pâncreas. A falta desse
hormônio é o que causa excesso de glicose no sangue e
outros sintomas de diabetes.
A proteína foi testada com
sucesso em células pancreáticas cultivadas em laboratório e já despertou o interesse
de laboratórios de companhias farmacêuticas. Segundo os pesquisadores de Harvard, antes de alguém investir em testes com animais e
humanos, é preciso provar a
segurança da molécula. A genipina tem propriedades
químicas que ainda precisam
ser estudadas, mas as perspectivas são boas.
"Bolamos alguns testes para ver se essas propriedades
eram requisitos para a droga
inibir a UCP2 e descobrimos
que elas não são necessárias,
o que é bom", disse à Folha
Bradford Lowell, líder da
pesquisa em Harvard. "Isso
significa que poderiam ser
feitas versões mais específicas da genipina contendo
apenas as propriedades desejadas para tratar diabetes."
Lowell conta que, para isolar a molécula, a ajuda do
grupo de Chen-Yu Zhang,
um especialista em medicina
tradicional chinesa, foi fundamental.
Para encontrar uma droga
com propriedades desejadas,
pesquisadores de empresas
farmacêuticas normalmente
fazem ensaios clínicos in vitro automatizados com incontáveis compostos até encontrar aquele com a propriedade desejada. Lowell,
porém, não teve como usar
uma abordagem tão direta.
Ajuda da China
Uma vez que, além de encontrar a propriedade desejada, Lowel queria também
saber se a proteína atuava
por meio da inibição de
UCP2, era preciso fazer um
ensaio clínico paralelo. Para
isso foram usados camundongos geneticamente alterados para não produzir
UCP2, mas o estudo acabou
ficando complicado demais.
"Dada a natureza desse ensaio, não teríamos como testar milhares e milhares de
compostos, então decidimos
fazer uma varredura em um
número menor de extratos
vindos de fontes naturais",
conta Lowell. "Aí que Zhang
entrou no nosso trabalho,
com seu conhecimento de
medicina tradicional chinesa. Ele obteve alguns extratos de diferentes fontes e começamos os trabalhos."
A genipina foi isolada de
uma variedade oriental da
gardênia, a Gardenia jasminoides, uma das cerca de 250
espécies descritas do vegetal.
Apesar de ter descoberto
um composto promissor para tratar diabetes tipo 2, Lowell procurava primeiramente uma droga para fins
científicos. "Somos um laboratório de pesquisa básica,
não uma empresa farmacêutica", diz. A genipina deve se
tornar uma ferramenta útil
para estudar o funcionamento das mitocôndrias, organelas celulares responsáveis
por processar energia.
Lowell e Zhang descrevem
o achado na edição atual do
periódico científico "Cell
Metabolism".
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