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Ultra-som prejudica cérebro de roedor
Estudo diz que técnica de exame afeta desenvolvimento neural de fetos durante gravidez de fêmeas de camundongo
Conclusão não pode ser
extrapolada para humanos,
diz cientista; grupo quer
fazer testes com macacos
para avaliar melhor o risco
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Fetos de camundongo expostos a vibração de ultra-som tiveram problemas de formação
cerebral, revela um experimento conduzido por cientistas da
Universidade Yale (EUA). Segundo o grupo, roedores cujas
mães tivessem sido submetidas
à técnica de exame prolongadamente -mais de 30 minutos
contínuos- eram mais propensos a apresentar problemas.
O estudo, publicado hoje no
periódico científico "PNAS",
traz evidências estatísticas. Em
média, os animais expostos tiveram mais neurônios que não
se posicionaram nos locais corretos do córtex (a superfície do
cérebro) durante o desenvolvimento embrionário. Nos fetos,
os neurônios de córtex nascem
no interior do cérebro e têm de
migrar até a periferia.
O neurocientista Pasko Rakic, líder do grupo que fez o experimento, afirma que os resultados são motivo para cautela,
mas não é possível extrapolar
conclusões e dizer que o mesmo acontece com seres humanos. "O ultra-som é uma ferramenta de diagnóstico importante e não deve ser abandonada, mas nas não acho que se deva fazer imagens dos embriões
quando não for necessário",
disse Rakic à Folha. "Muitos
casais gostam de fazê-lo apenas
para obter "fotos" do bebê."
Os resultados obtidos por
Rakic foram, de certa forma,
inesperados. Há pouca evidência epidemiológica mostrando
riscos significativos do uso de
ultra-som reunida nas últimas
três décadas, desde que a técnica tem sido usada na medicina
fetal, e boa
parte dela é inconclusiva.
Para avaliar melhor o risco
que a técnica oferece para humanos, Rakic quer recolher dados de exames com macacos,
animais evolutivamente mais
próximos do Homo sapiens. "Já
começamos os testes, mas devemos levar uns três anos para
terminar", diz. Testes em humanos não podem ser feitos
com o mesmo método, porque
as cobaias recém-nascidas têm
de ser sacrificadas para análise.
"Humanos têm cérebro
maior e com mais células, e é
possível argumentar que o efeito seria menor; será bom se
descobrirmos isso", diz Rakic.
"Mas também é possível argumentar que, em um cérebro
grande, a rota de migração dos
neurônios até o córtex é maior,
e uma célula corre mais risco
de "se perder" no caminho."
O cientista afirma que ainda
não sabe a causa do efeito ruim
do ultra-som sobre roedores.
"Não conhecemos mecanismos, apenas fenômenos", diz.
"Para isso seria preciso observar células ao longo do tempo,
e é muito difícil ver quais delas
são afetadas, mas estamos tentando criar um método."
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