São Paulo, terça-feira, 08 de outubro de 2002

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MEDICINA

Brenner e Sulston, britânicos, e Horvitz, americano, desvendaram morte programada de células no verme C. elegans

Estudos de suicídio celular levam o Nobel

CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

As células suicidas de um minúsculo verme cilíndrico deram a três cientistas o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina deste ano. O animal em questão é o impronunciável Caenorhabdtis elegans, de 1 mm de comprimento, um dos organismos favoritos dos biólogos para estudar a relação entre genes e desenvolvimento.
O prêmio, de US$ 1 milhão, será dividido entre dois britânicos e um americano. Eles descobriram, no animal, o mecanismo da morte programada de células e alguns dos genes que o controlam.
Esse suicídio é conhecido como morte celular programada, ou apoptose. Mantém o equilíbrio no número de células dos seres pluricelulares (como o C. elegans e o homem). É crucial no desenvolvimento embrionário, pois permite esculpir órgãos como as mãos (eliminando células no espaço entre os futuros dedos). Desvendar seu funcionamento ajuda a compreender doenças humanas nas quais ele falha, como câncer e moléstias neurodegenerativas.
Os três contemplados são o britânico (nascido na África do Sul) Sydney Brenner, presidente do Instituto de Ciência Molecular, nos EUA, o americano H. Robert Horvitz, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, também nos EUA, e o britânico John Sulston, do Instituto Sanger do Wellcome Trust, no Reino Unido.
Brenner, 75, e Sulston, 60, talvez já estivessem esperando por um Nobel, mas por outros motivos. O primeiro foi um dos pioneiros da biologia molecular. Trabalhou, na década de 60, com ninguém menos que Francis Crick -co-descobridor da estrutura do DNA.
Além disso, descobriu o RNA mensageiro, estrutura que "traduz" as instruções contidas nos genes para a produção de proteínas, moléculas que fazem tudo no organismo. Foi ele quem lançou o C. elegans ao estrelato da biologia.
Sulston, um dos cientistas mais celebrados do Reino Unido, adicionou o título de "sir" (cavaleiro) ao nome no ano passado, depois de coordenar a parte britânica do sequenciamento (leitura) do genoma do ser humano.
Também coordenou os esforços de transcrição do DNA do C. elegans, primeiro animal a ter seu genoma soletrado.
O biólogo estava na sua mesa no Sanger quando recebeu a ligação do Instituto Karolinska, entidade sueca que concede o Nobel. "Peguei o recado [na secretária eletrônica" e então telefonei de volta, o que tornou as coisas mais fáceis", afirmou. "Tive tempo de ponderar e dizer: "Isso é real?" "
O pesquisador britânico afirmou ontem, em entrevista ao jornal "The Independent": "Este é o primeiro prêmio para o verme. Espero que haja muitos outros".
Horvitz, 55, disse que o mais gratificante seria se a descoberta levasse a curas para doenças humanas. "Esse é o sonho."


Com agências internacionais



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