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Genes podem permitir teste precoce
DA REDAÇÃO
Pesquisadores do Instituto
Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer estão perto de criar um novo
tipo de teste diagnóstico precoce
para dois tipos de câncer, com base em trechos de DNA.
Se tudo caminhar bem, em dois
ou três anos poderão ter um exame que usa apenas pares e trios de
genes -e muita matemática-
para detectar tumores de estômago e de tireóide em estágios hoje
indetectáveis. Esperam, com isso,
fornecer aos médicos uma ferramenta para evitar muitas mortes e
cirurgias desnecessárias.
Genes são como registros na
memória da espécie, gravados na
escrita da molécula de DNA. Sempre que o organismo precisa realizar uma função, vai buscar no
DNA as "receitas" (genes) das
proteínas para pô-la em marcha.
O estudo será apresentado amanhã por Luiz Fernando Lima Reis
no simpósio internacional "Novas Abordagens Clínicas e Moleculares Voltadas para o Câncer".
A esperança é conseguir identificar lesões do estômago numa fase de transição, a caminho de se
tornarem malignas. Depois que o
tumor se instala e se alastra, não
há tratamento disponível além da
cirurgia para extirpação. Como
em geral é diagnosticado em estágio avançado, revela-se uma das
formas de câncer mais mortais.
Reis, 43, é pesquisador da filial
paulistana da rede internacional
do Instituto Ludwig, que foi parceira da Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo) no programa Genoma
do Câncer, já encerrado.
O teste em desenvolvimento é
um subproduto do programa,
que identificou 70 mil genes humanos em potencial a partir da
análise de tumores (o que leva a
crer que o homem tenha bem
mais do que os 30 mil a 40 mil genes estimados em 2001 no rascunho do genoma humano).
Essas sequências foram usadas
para construir chips de DNA, lâminas com milhares de furinhos
contendo amostras desses genes,
um em cada buraco (cuja sequência é conhecida). Quando se põe
material dos tumores sobre a lâmina, o DNA que as células cancerosas estiverem usando, de fato,
vai interagir com as sequências
complementares em cada furinho, fazendo com que ele "se
acenda" após o pareamento.
É uma maneira de identificar os
genes mais usados nas células
cancerosas, para descobrir sua assinatura genética, pois se supõe
que cada tipo de tumor mobilize
um conjunto peculiar de sequências de DNA para se desenvolver.
No caso do câncer de estômago, a
equipe de Reis começou testando
4.700 deles e chegou a um conjunto de 141, com base em seis amostras de tecidos normais e seis de
tumores, para comparação.
Em seguida, incluíram outros
candidatos a marcadores diagnósticos, chegando a 200. Aí entraram em cena a estatística e a
computação, para tentar identificar entre esses 200 alguns pares
ou trios de genes que, sozinhos,
fossem capazes de predizer com
segurança se a amostra em questão é ou não de um tumor.
Primeiro, o computador tem a
chance de aprender, pois recebe
informação sobre quais são os genes ativos no tumor e no tecido
normal, e em que intensidade.
Depois, recebe apenas perfis de
expressão dos genes e tem de predizer se a amostra é de tumor ou
tecido são (e o pesquisador pode
verificar o grau de acerto).
Reis diz que já tem mais de uma
dezena de pares e trios capazes de
permitir tal "classificação", como
se diz no jargão dos médicos. Os
resultados da primeira etapa desse trabalho, que envolveu um número reduzido de pacientes, sairá
em breve na revista "Cancer Letters". O Instituto Ludwig está preparando um pedido de patente
para o futuro teste. Se concedida a
patente, a receita será repartida
com a Fapesp.
A mesma estratégia está sendo
seguida para criar um teste para
tumores malignos da tireóide.
Hoje, 60% das cirurgias de retirada da glândula na base do pescoço
revelam nódulos benignos. Parte
delas poderia ser evitada, se não
houver outras indicações associadas, como melhorar a deglutição.
Simpósio Internacional Novas Abordagens Clínicas e Moleculares Voltadas contra o Câncer - De hoje (14h) a
domingo, no Auditório Senador José Ermírio de Moraes, Hospital do Câncer A.C.
Camargo, rua Tamandaré, 764, bairro Liberdade, São Paulo, SP.
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