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ASTRONOMIA
Nasa faz medição pioneira do chamado efeito Yarkovsky, desvio na trajetória de bólidos fatais do Sistema Solar
Luz solar põe asteróide em rota de colisão com a Terra
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas americanos observaram diretamente pela primeira
vez um fenômeno que pode ser o
principal responsável pela colocação de asteróides numa rota de
colisão com a Terra.
Trata-se do efeito Yarkovsky,
sugerido pela primeira vez por
um cientista russo há um século,
mas ressuscitado não faz muito
pela comunidade científica. Ele
descreve basicamente um modo
não-gravitacional pelo qual um
asteróide pode alterar sua trajetória ao longo do tempo.
Normalmente, as órbitas descritas pelos objetos celestes são caracterizadas por suas interações
via gravidade -principalmente a
do Sol, no caso do Sistema Solar.
Há um grande cinturão de asteróides localizado entre as órbitas
de Marte e Júpiter. Exceto por raras ocasiões em que esses objetos
colidem ou acabam passando
perto demais do sistema joviano,
suas órbitas ficam limitadas àquele espaço. Ou melhor, ficariam,
não fosse o efeito Yarkovsky.
Trata-se do efeito acumulado de
impulsos diminutos causados pela luz que chega do Sol. Em tese,
cada um desses objetos recebe
aproximadamente a mesma
quantidade de luz em todas as regiões, por causa de seu efeito de
rotação. Entretanto, dependendo
da capacidade de reflexão (albedo) da região na superfície, ele rebate mais ou menos raios luminosos. Esse desequilíbrio faz com
que sua rota normal seja alterada
levemente, pois o astro "sentiria"
um impulso mais forte numa determinada direção.
Lento deslocamento
Acredita-se que o fenômeno seja um componente importante
para o deslocamento de objetos
do cinturão de asteróides para regiões mais internas do Sistema
Solar. Ele criaria uma nova população de bólidos cósmicos conhecidos pela sigla NEO ("objeto próximo à Terra", em inglês). Sabe-se
que há cerca de mil asteróides
desse tipo com diâmetro maior
do que um quilômetro -ou seja,
capazes de devastação global, caso se choquem com a Terra.
Apesar da forte desconfiança de
que o efeito Yarkovsky fosse real,
ninguém ainda havia detectado
sua ação. O feito coube a um grupo liderado por Steven Chesley,
do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa (agência espacial
americana). Eles detectaram uma
pequena discrepância na trajetória de um asteróide conhecido como 6489 Golevka, um corpo de
meio quilômetro de diâmetro que
entra na categoria dos NEOs.
Com imagens de radar captadas
a partir do Observatório de Arecibo, em Porto Rico, os pesquisadores conseguiram observar o diminuto efeito e, com ele, calcular a
densidade do asteróide -cerca
de 2,7 gramas por centímetro cúbico, com margem de erro de 0,4
para mais e 0,6 para menos.
A capacidade de seguir detectando o efeito Yarkovsky em outros objetos deve permitir que os
cientistas consigam cada vez mais
detalhes sobre os asteróides que
ameaçam a Terra. Trata-se de um
fator fundamental para determinar um curso de ação no caso de
perigo de colisão. Além de determinar a densidade do objeto (importante para estimar se ele se
fragmentaria na atmosfera terrestre ou cairia como um pedaço
grande), seria possível aperfeiçoar
a predição de sua órbita e constatar com mais exatidão se um choque de fato iria ocorrer.
Como salvar a humanidade
Além disso, o efeito Yarkovsky,
embora seja em primeiro lugar
um dos responsáveis por colocar
a humanidade em perigo, pode
também ser a chave para salvá-la
de um impacto.
Muito mais fácil do que desviar
um asteróide pela força bruta seria simplesmente pintá-lo de
branco, tornando-o mais reflexivo. O efeito Yarkovsky aumentado, alimentado pela luz do Sol,
cuidaria do resto, desviando o bólido de seu curso previsto.
Claro, como o efeito é pequeno,
seria preciso aviso prévio de várias décadas para executar o procedimento. Mas seria exequível.
"Mudar o albedo [poder de reflexão] é um modo de manipular
o efeito Yarkovsky. Poderia exigir
a deposição de uma grande quantidade de material no corpo, mas
isso é algo que possivelmente poderíamos fazer", diz Joseph Spitale, da Universidade do Arizona,
que trabalha justamente com a
possibilidade de desviar objetos
ameaçadores dessa maneira.
O estudo de Chesley e seus colegas saiu na última edição da revista norte-americana "Science"
(www.sciencemag.org).
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