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Fundo pró-florestas fica fora de acordo
Texto negociado na conferência do clima em Bali exclui proposta brasileira de mecanismo contra o desmatamento
Países tropicais brigam para incluir matas em texto final; Indonésia pressiona por compensação para frear emissões de madeireiras
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A BALI
O Brasil perdeu a esperança
de ver um fundo global contra
emissões por desmatamento
funcionando na Convenção do
Clima antes da aprovação do
acordo pós-Kyoto. Se os países
tropicais quiserem reduzir seu
desmatamento antes disso,
portanto, terão de fazê-lo sem
ajuda externa alguma, como o
Brasil tem feito.
O texto sobre florestas que
está sendo negociado na COP-13, a conferência do clima de
Bali, convoca os países a agir
para reduzir o desmatamento.
As ações propostas, no entanto,
são todas na área subjetiva de
"capacitação".
Há pressão dos países ricos
para que a menção à mobilização de recursos sobretudo por
parte dos países desenvolvidos
seja excluída do texto a ser
aprovado pelos ministros em
Bali na semana que vem.
"A gente tinha expectativa de
que pudesse haver um "start"
[início] em RED antes de 2012",
disse a secretária nacional de
Mudança Climática do Ministério do Meio Ambiente, Thelma Krug, referindo-se à sigla
pela qual é conhecida a redução
de emissões por desmatamento. "Mas o pessoal aqui está falando em capacitação."
Não era de todo inesperado
que nenhum mecanismo para
implementar a RED fosse definido em Bali, já que o assunto é
complexo e existem várias propostas divergentes sobre como
fazer isso. Alguns países falam
em usar o desmatamento reduzido para gerar créditos de carbono num mecanismo internacional de mercado, enquanto o
Brasil defende praticamente
sozinho a montagem de um
fundo voluntário com dinheiro
das nações ricas.
Mas o governo brasileiro tinha a expectativa de conseguir
aprovar esse mecanismo logo e
fazê-lo funcionar antes do período pós-Kyoto. Afinal, a redução de emissões por desmatamento não está sendo negociada dentro do Protocolo de Kyoto e sim no "trilho" da Convenção do Clima, que é mais flexível e permite agir a qualquer
momento -enquanto o acordo
pós-Kyoto só vale a partir de
2013. A implementação adiantada dessas medidas poderia
servir como estímulo a que países em desenvolvimento adotassem aceleradamente políticas públicas que contribuíssem
para mitigar o efeito estufa.
RED ou REDD?
A briga agora é para que o tema florestas continue no texto
final da negociação, o chamado
"mapa do caminho de Bali". O
Brasil vê a redução do desmatamento como instrumento de
mitigação fundamental. Sergio
Serra, embaixador extraordinário para mudança do clima e
porta-voz da delegação brasileira, diz que é praticamente
certo que ela permaneça no
"mapa do caminho". Mas há
problemas na rota.
O principal é uma discórdia
quase semântica entre os dois
maiores países com florestas
tropicais do mundo, o Brasil e a
Indonésia. O texto da convenção que está sendo negociado
no momento fala em RED, mas
nações como a Indonésia querem um "D" a mais na sigla. De
"degradação".
Isso permitiria, por exemplo,
que países tropicais ganhassem
compensação por carbono emitido em atividades que degradam, mas não arrasam completamente a floresta, como a exploração de madeira.
O problema, dizem os brasileiros, é que não existe ainda
uma metodologia segura para
medir degradação. "O segundo
"D" pode entrar, mas separado",
diz Serra.
O boletim ECO, da rede de
ONGs Climate Action Network, resumiu a pendenga: "É
crucial que essas questões não
desviem a necessidade de ver o
desmatamento incluído no
mandato de Bali."
Leia mais no blog "Bali,40 graus": http://bali40graus.folha.blog.uol.com.br
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