São Paulo, terça-feira, 08 de dezembro de 2009

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COPENHAGUE 2009

Conferência abre com EUA na berlinda

Europeus e emergentes cobram Barack Obama sobre financiamento e cumprimento de metas no primeiro dia da reunião

No mesmo dia da cobrança, órgão ambiental americano declara que CO2 faz mal à saúde, o que possibilita sua regulação pelo governo


Attila Ksbenedek/France Presse
Representantes de 192 países assistem a discurso do primeiro-ministro dinamarquês, Lars Rasmussen, na abertura da conferência do clima de Copenhague

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A COPENHAGUE

A um consenso europeus, grandes países emergentes e países pobres chegaram ontem, no primeiro dia da conferência do clima em Copenhague: a quem culpar se as negociações não resultarem em um acordo de peso. Na linha de tiro estão os EUA e, por consequência, o presidente Barack Obama.
"Será chocante se Obama aparecer aqui na semana que vem e anunciar só o que já foi dito na semana passada", disse o ministro do Ambiente sueco, Andreas Carlgren, falando em nome da União Europeia.
A expectativa fica agora em torno do anúncio, feito ontem pela EPA (Agência de Proteção Ambiental) dos EUA, de que o gás carbônico é uma ameaça à saúde dos americanos e que, portanto, deve ser regulado pelo governo independentemente da vontade do Congresso (leia texto abaixo).
Os americanos anunciaram até agora um corte de 17% em suas emissões de gases-estufa sobre os níveis de 2005 -ou 4% em relação a 1990, o ano usado como base pela ONU.
O "mais" que se espera agora, como já deixaram claro diversas delegações, é uma oferta ousada para financiar a mitigação das emissões e a adaptação à mudança climática dos países pobres. O custo da operação é estimado em US$ 150 milhões ao ano nas próxima décadas.
E se, com Obama refém de um Congresso coalhado de interesses especiais e dividido sobre uma tímida lei do clima, os EUA espelharem as negociações da Rodada Doha de liberalização do comércio global e não cederem em mais nada?
A resposta aponta para a mesma direção de Doha, com os países tirando suas ofertas da mesa e culpando os americanos. A UE ontem ameaçou desistir de subir de 20% para 30% sua oferta de corte de emissões.
"A UE quer ir para os 30%, a questão é se outras partes vão fazer o que é necessário para manter o aquecimento global abaixo de 2C. Precisamos ver [o que fazem] os EUA e a China", disse Carlgren.
Os europeus não estão sós ao condicionarem sua oferta aos americanos. Brasil, China, Índia e África do Sul circulam um texto preliminar entre os emergentes para apresentarem como versão alternativa da declaração final da conferência -embora mesmo no grupo a sintonia seja mínima.
Segundo pessoas que tiveram acesso ao documento, há um trecho em que se cobra dos EUA um compromisso palpável em parâmetros que possam ser comparados aos demais países (1990 em vez de 2005, por exemplo). O texto, segundo as mesmas fontes, também exorta ao monitoramento da implementação dessas metas.
Na noite de domingo, a África do Sul propôs cortar em 34% suas emissões até 2020, contanto que esse corte seja financiado pelos países ricos. O Brasil propôs um desvio de até 39% do que seriam as emissões em 2020, e a China e a Índia preferiam anunciar a redução da intensidade de CO2 na economia.
Na berlinda, Jonathan Pershing, negociador americano, afirmou ontem em Copenhague que o que Obama colocou na mesa "já é notável", e insistiu em que o país tem uma "tendência consistente" de redução de emissões que lhe permitirá chegar a um corte de 80% em 2050 -sobre 2005.
O negociador também repisa que os EUA estão comprometidos a contribuir com sua "cota justa" no financiamento aos países pobres, mas traça seu horizonte até 2012, quando serão precisos US$ 10 bilhões ao ano, evitando dar cifras além.
"Os EUA respondem por 1/5 das emissões, o que significa que 4/5 vêm de outros países", retorquiu a jornalistas, cobrando "transparência" e "ações claras" dos demais países.


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