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Brasileira descobre "orfanato" de estrelas
Bolhas azuis encontradas em região vazia entre duas galáxias que quase colidiram são aglomerados de astros mais jovens
Formações reveladas pelo telescópio Hubble podem ser origem da "poluição" de elementos mais pesados espalhados pelo Universo
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma astrônoma brasileira da
Nasa anunciou ontem ter encontrado um conjunto de estrelas "órfãs", nascidas fora de
grandes galáxias. Duilia de Mello, cientista do Centro Goddard de Vôos Espaciais, da
agência americana, descobriu
esses pequenos aglomerados
de estrelas jovens na forma de
bolhas azuis no espaço sideral.
O "orfanato" estelar foi identificado pela brasileira ao cruzar imagens do satélite Galex,
que capta luz ultravioleta, e do
Observatório Nacional de Radioastronomia dos EUA, que
"enxerga" ondas de rádio.
"Eu tinha visto as bolhas
azuis com o Galex, mas com as
imagens de rádio vi que havia
mais alguma coisa ali", disse
Mello. A região era uma nuvem
de hidrogênio, local onde normalmente se formariam estrelas. Mas era rarefeita demais
para ser um berçário viável.
Astrônomos russos já tinham olhado para aquela área
do espaço na década de 1980,
mas com um telescópio menos
potente. "Na época, apareciam
umas duas ou três estrelas, mas
com o [telescópio] Hubble nós
pudemos ver que são 2.000",
disse Mello. A descoberta foi
anunciada no encontro anual
da AAS (Sociedade Astronômica Americana), no Texas.
O Hubble foi crucial para a
descoberta de Mello, detalhada
em estudo a ser publicado na
revista "The Astronomical
Journal". Só com as imagens do
telescópio espacial foi possível
descobrir as idades das estrelas
vistas. Como elas são "jovens"
com menos de 30 milhões de
anos (daí sua coloração azul),
só podem ter sido produzidas
ali, e não importadas de galáxias próximas.
Ao lado das imagens da descoberta, os cientistas também
apresentaram uma proposta de
explicação para o fato de o grupo de estrelas ter nascido "no
meio do nada". Normalmente,
a formação estelar ocorre em
zonas de alta densidade de gases, e tais regiões só existem
dentro das galáxias.
As bolhas azuis encontradas
por Mello não estão em uma região como essa, mas vivem uma
condição especial. Elas estão
no meio de duas galáxias próximas, que se deslocam e interagem entre si por meio da força
da gravidade, dando origem a
fenômenos inusitados. Alguns
astrônomos acreditam que as
duas galáxias (e mais uma galáxia-anã) passaram "de raspão"
uma perto da outra há cerca de
200 milhões de anos, num
evento em que umas "roubaram" algumas estrelas da borda
das outras.
A quase-colisão também
criou uma zona de turbulência
na área de gás rarefeito, possibilitando então que algumas
estrelas nascessem em região
menos densa. Na fronteira turbulenta, a matéria conseguia se
agregar com mais facilidade.
Segundo Mello, a existência
de estrelas desse tipo pode explicar por que o Universo está
"poluído" com nuvens de elementos mais pesados que hidrogênio e hélio (e que fornecem a matéria-prima para a
formação de planetas).
Esses elementos são produzidos nos núcleos de estrelas
velhas e expelidos quando elas
morrem. A morte de estrelas
dentro de galáxias, porém, não
deixa sujeira espalhada, pois
ela é contida pela gravidade galáctica.
(RAFAEL GARCIA)
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