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Fã de New Age, Pontes quer ser violeiro da estação espacial
DO ENVIADO A MOSCOU
Tudo começa com uma luz piscante num painel. Uma pane. O
sistema que separa os módulos da
nave não dispara automaticamente, ameaçando o processo
crítico de reentrada na atmosfera
terrestre. A tripulação sabe exatamente o que fazer -valeu passar
noites em claro revisando os manuais técnicos de sistemas. O comandante passa ao controle manual. O procedimento funciona.
Os três tripulantes da Soyuz vivem mais um dia. Tudo isso num
simulador, claro.
"Ainda não morri aqui nenhuma vez", conta com orgulho Marcos Cesar Pontes, ao mostrar os
detalhes de funcionamento do simulador da nave Soyuz (em russo
pronuncia-se "saiús"). O astronauta brasileiro está em ritmo puxado de treinamento na Cidade
das Estrelas, centro fechado nos
arredores de Moscou que hoje
abriga cerca de 7.000 pessoas e
serve de campo para a preparação
de cosmonautas. As instalações
estão em uso desde o tempo de
Yuri Gagarin, o primeiro homem
a ir ao espaço, em 1961. (A mulher
dele vive lá até hoje.)
Pontes faz duas a três simulações dessas por semana. Enquanto ele e seus colegas de tripulação
(Pavel Vinogradov, da Rússia, e
Jeffrey Williams, dos Estados
Unidos) trabalham no apertado
simulador, uma equipe numa sala
ao lado cria problemas para eles
-todo tipo de pane, em todas as
fases da viagem. Apesar das dificuldades, Pontes até que considera isso um refresco.
Também pudera, depois de passar sete anos (1998 a 2005) no
Centro Espacial Johnson da Nasa,
em Houston, EUA, se familiarizando com todos os detalhes de
como se voar no complicado ônibus espacial. Pontes confessa que
nos simuladores das naves americanas ele já "morreu" duas vezes
(ou seja, não conseguiu salvar o
veículo de um problema).
Encontro marcado
Ontem, logo depois de mais
uma passagem pelo simulador,
Pontes teve de encarar um tipo diferente de desafio: enfrentar os
jornalistas. Foi na entrevista coletiva organizada pela Roskosmos
(agência espacial russa) para
apresentar, naquele país, a próxima tripulação a ir à ISS (um evento similar foi realizado em Houston, no mês passado).
Williams e Vinogradov vão ao
espaço para ficar seis meses em
órbita. Embora Pontes, em comparação, vá ficar só dez dias, foi
ele quem recebeu mais perguntas.
O evento foi realizado em três línguas: português, inglês e russo.
Quando perguntado se, em razão do número, ele temia fazer a
viagem justo com a chamada Expedição 13, o brasileiro disse não
ter essa superstição. Em todo caso, arrematou: "Tecnicamente,
sou 12 e meio, porque vou com a
13, mas volto com a 12", arrancando risos dos entrevistadores.
Pontes também fez sucesso ao
comentar sua adaptação aos rigores do inverno russo. "Eu me
adaptei bem ao frio, gostei. Ouvi
dizer que é o ano mais frio dos últimos não sei quantos anos. Tive
sorte de conhecer o frio do inverno russo. Até dezembro não tinha
aparecido, mas agora veio com
vontade." Com isso, mais uma
vez quebrou o gelo e provocou risadas entre os presentes.
Mais tarde, falando só aos jornalistas brasileiros, o militar de
Bauru (interior paulista) alertou
que pode se tornar mais um "violeiro das galáxias". "Já tem um
violão e um teclado na estação",
insinua, rindo. Ele diz que pretende usar as inspirações de seu vôo
para trabalhar em algumas músicas que compõe com seu primo
Adylson Godoy, que já foi do grupo Zimbo Trio.
Quanto ao que vai ouvir por lá,
o astronauta diz ter um gosto
"eclético" para música. A primeira coisa que vem à mente? "Gosto
muito do gênero New Age."
(SN)
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