|
Próximo Texto | Índice
Banco Mundial dá financiamento a gado na Amazônia
IFC, braço do banco voltado à iniciativa privada, aprova empréstimo de US$ 90 mi para expansão do Grupo Bertin
Para os ambientalistas,
aprovação induzirá desmate
e compromete ainda mais a
credibilidade do banco, que
já foi criticado no passado
DA REPORTAGEM LOCAL
Está aprovado. O Conselho
de Diretores da IFC (Corporação Financeira Internacional,
na sigla inglesa), o braço do
Banco Mundial (Bird) que financia a iniciativa privada, decidiu ontem emprestar US$ 90
milhões para o Grupo Bertin, a
segunda maior empresa de carnes do mercado brasileiro.
O dinheiro será usado para
um grande projeto de expansão
do conglomerado, que tem capital 100% nacional. Parte desses recursos vão ser aplicados
na Amazônia (Pará, Rondônia e
Mato Grosso), o que está preocupando os ambientalistas.
"Essa aprovação diminui ainda mais a credibilidade da IFC,
que já está bastante erodida",
disse Roberto Smeraldi, diretor
da Amigos da Terra Amazônia
Brasileira. "É mais um problema para o banco, que terá de
mostrar que as suas ações não
causam dano ao ambiente."
A IFC, por meio de sua assessoria de imprensa, justificou a
decisão tomada nos Estados
Unidos. "Existe uma necessidade real de conciliarmos o desenvolvimento econômico da
Amazônia e sua conservação
ambiental," disse Atul Mehta,
diretor para a Região da América Latina e Caribe do banco.
"A indústria pecuária é um
componente importante da atividade econômica na Amazônia. Por meio do engajamento
com a Bertin, a IFC está buscando desenvolver novos padrões para lidar com os desafios socioambientais neste setor", disse o executivo.
Também por meio de um comunicado, o Grupo Bertin disse que a decisão reafirma que a
empresa está comprometida
com a sustentabilidade. "Nenhum outro banco de investimentos é tão criterioso em suas
análises", disse Douglas Vieira,
diretor-financeiro da Bertin.
Pressão sobre a floresta
Com o empréstimo ao Grupo
Bertin, a capacidade de abate
na região de Marabá deverá sair
das atuais 250 mil cabeças de
gado por ano e chegar às 500
mil até 2009. Essa ampliação,
segundo as ONGs é incompatível com a preservação.
Segundo Smeraldi, na região
de Marabá o ideal seria cortar
em dois terços o rebanho -e
não expandi-lo-, já que a
maior parte do desmatamento
para pasto é ilegal (a lei brasileira determina que 80% das
propriedades na Amazônia sejam deixadas como reserva).
Os próprios estudos produzido pela empresa de consultoria
Arcadis, a pedido da IFC, concluem que a pressão na floresta
pode ocorrer. Em um dos cenários previstos nas projeções, a
área desmatada cresce em 10%.
Na outra análise, a área usada
atualmente fica saturada em
2010. Ou seja, não caberá mais
boi na região.
A IFC argumenta que o incremento na produção não se
dará às expensas da floresta.
Seus técnicos dizem acreditar
que técnicas modernas de produção podem aumentar o número de animais por hectare na
região de 1,2 para até 1,56.
A empresa terá de implementar um projeto gradual para a produção sustentável na
cadeia de suprimento de carne
e couro em Marabá.
O principal objetivo dessa
medida é tentar resolver, pelo
menos entre os fornecedores
do grupo, a polêmica questão
da posse da terra na região. A
Bertin não comprará gado de
qualquer fornecedor que esteja
condenado por grilagem de terra em Marabá. Isso passa a valer no terceiro mês do contrato.
O Brasil é o país que recebeu
a maior quantidade de recursos
da IFC no último ano fiscal entre os países da América Latina:
US$ 737 milhões.
Próximo Texto: Justiça do PA libera madeira em Resex Índice
|