São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

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Banco Mundial dá financiamento a gado na Amazônia

IFC, braço do banco voltado à iniciativa privada, aprova empréstimo de US$ 90 mi para expansão do Grupo Bertin

Para os ambientalistas, aprovação induzirá desmate e compromete ainda mais a credibilidade do banco, que já foi criticado no passado

DA REPORTAGEM LOCAL

Está aprovado. O Conselho de Diretores da IFC (Corporação Financeira Internacional, na sigla inglesa), o braço do Banco Mundial (Bird) que financia a iniciativa privada, decidiu ontem emprestar US$ 90 milhões para o Grupo Bertin, a segunda maior empresa de carnes do mercado brasileiro.
O dinheiro será usado para um grande projeto de expansão do conglomerado, que tem capital 100% nacional. Parte desses recursos vão ser aplicados na Amazônia (Pará, Rondônia e Mato Grosso), o que está preocupando os ambientalistas.
"Essa aprovação diminui ainda mais a credibilidade da IFC, que já está bastante erodida", disse Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra Amazônia Brasileira. "É mais um problema para o banco, que terá de mostrar que as suas ações não causam dano ao ambiente."
A IFC, por meio de sua assessoria de imprensa, justificou a decisão tomada nos Estados Unidos. "Existe uma necessidade real de conciliarmos o desenvolvimento econômico da Amazônia e sua conservação ambiental," disse Atul Mehta, diretor para a Região da América Latina e Caribe do banco.
"A indústria pecuária é um componente importante da atividade econômica na Amazônia. Por meio do engajamento com a Bertin, a IFC está buscando desenvolver novos padrões para lidar com os desafios socioambientais neste setor", disse o executivo.
Também por meio de um comunicado, o Grupo Bertin disse que a decisão reafirma que a empresa está comprometida com a sustentabilidade. "Nenhum outro banco de investimentos é tão criterioso em suas análises", disse Douglas Vieira, diretor-financeiro da Bertin.

Pressão sobre a floresta
Com o empréstimo ao Grupo Bertin, a capacidade de abate na região de Marabá deverá sair das atuais 250 mil cabeças de gado por ano e chegar às 500 mil até 2009. Essa ampliação, segundo as ONGs é incompatível com a preservação.
Segundo Smeraldi, na região de Marabá o ideal seria cortar em dois terços o rebanho -e não expandi-lo-, já que a maior parte do desmatamento para pasto é ilegal (a lei brasileira determina que 80% das propriedades na Amazônia sejam deixadas como reserva).
Os próprios estudos produzido pela empresa de consultoria Arcadis, a pedido da IFC, concluem que a pressão na floresta pode ocorrer. Em um dos cenários previstos nas projeções, a área desmatada cresce em 10%. Na outra análise, a área usada atualmente fica saturada em 2010. Ou seja, não caberá mais boi na região.
A IFC argumenta que o incremento na produção não se dará às expensas da floresta. Seus técnicos dizem acreditar que técnicas modernas de produção podem aumentar o número de animais por hectare na região de 1,2 para até 1,56.
A empresa terá de implementar um projeto gradual para a produção sustentável na cadeia de suprimento de carne e couro em Marabá.
O principal objetivo dessa medida é tentar resolver, pelo menos entre os fornecedores do grupo, a polêmica questão da posse da terra na região. A Bertin não comprará gado de qualquer fornecedor que esteja condenado por grilagem de terra em Marabá. Isso passa a valer no terceiro mês do contrato.
O Brasil é o país que recebeu a maior quantidade de recursos da IFC no último ano fiscal entre os países da América Latina: US$ 737 milhões.


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