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ASTRONOMIA
Projeto espacial europeu e brasileiro pode ser primeiro a detectar planetas pequenos além do Sistema Solar
Satélite vai buscar outras Terras em 2005
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pode até ser que 2010 seja mesmo "o ano em que faremos contato", como sugere o subtítulo do
segundo filme baseado na saga de
ficção científica de Arthur Clarke.
Mas, se depender de astrônomos
europeus e brasileiros, a localização das primeiras "Terras" fora
do Sistema Solar começará a ser
feita bem antes, em 2005.
Para isso, deve ir ao espaço o satélite Corot (abreviação inventada
em inglês para "convecção, rotação e trânsitos planetários"). O
projeto é liderado pela França e
conta com a participação de vários países europeus. Fora da Europa, só o Brasil está no jogo
-em igualdade de condições.
"É a primeira vez que os cientistas brasileiros têm a chance de
participar do projeto de um satélite astronômico desde a sua concepção", diz Eduardo Pacheco, do
IAG (Instituto de Astronomia,
Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP. "E, pela primeira vez
na história da humanidade, teremos a chance de descobrir planetas do tamanho da Terra."
Mais de cem planetas extra-solares já foram detectados em torno de outras estrelas. Observar diretamente a luz vinda desses corpos distantes atualmente está fora
de cogitação (seu brilho fraco é
ofuscado pela estrela), mas os
cientistas desenvolveram estratégias indiretas de detecção.
A mais popular delas, responsável por quase todas as detecções
até agora, é a que identifica os planetas observando o sutil bamboleio da estrela. Apesar de terem
massa bem inferior à do astro
central, planetas, quando grandes
o bastante, podem exercer força
gravitacional suficiente para que a
estrela se desloque ligeiramente
na direção deles, conforme se arrastam por suas órbitas.
Observando o ritmo desse bamboleio estelar, os astrônomos conseguem inferir a existência de planetas. Mas somente gigantes gasosos como Júpiter ou Saturno
podem ser detectados. Planetas
menores, como Mercúrio, Vênus,
Terra e Marte -os chamados terrestres, ou telúricos, que têm superfície rochosa-, estavam fora
do alcance, ao menos até agora.
Trânsito planetário
Outro meio de encontrar planetas é pelo trânsito. Conforme o
planeta viaja em sua órbita, há um
momento em que ele passa na
frente da estrela, fazendo com que
seu brilho diminua um pouco. É
como um minieclipse. Episódio
similar, mas no Sistema Solar,
aconteceu anteontem, quando
Mercúrio passou na frente do Sol.
De novo, se um planeta é pequeno demais, a diferença de brilho
da estrela é bem sutil. Os telescópios em terra que procuram planetas por trânsito não conseguem
detectar os pequenos, mas o Corot será capaz dessa façanha.
"Não só poderemos detectar
planetas como a Terra, mas planetas que estejam na zona de habitabilidade", explica Pacheco.
No Sistema Solar, a zona de habitabilidade corresponde, grosso
modo, à faixa entre as órbitas de
Vênus e Marte. Tecnicamente, a
zona de habitabilidade compreende aquela em que um corpo
é capaz de manter água em estado
líquido na superfície. Essas condições, dizem os cientistas, são essenciais para a existência de vida.
O projeto envolve custo de US$
40 milhões, mas o Brasil deve entrar apenas com cerca de US$ 300
mil. O país participa de três maneiras. Primeiro, fazendo a recepção de parte dos dados enviados
pelo satélite na estação do Inpe
em Natal (antes o projeto só contava com uma estação nas cercanias de Madri para receber todos
os resultados científicos).
Além disso, cientistas brasileiros criarão o programa de computador responsável pelo tratamento dos dados. "Cinco ou seis
pesquisadores vão passar dois
anos na França para desenvolvê-lo", diz Pacheco. Para isso ocorrer, falta só o CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico) conceder bolsas para os participantes.
A terceira função seria propor
programas científicos de observação. O Brasil terá direito a executar cinco grandes programas,
mesmo número que os outros
participantes. "Estamos entrando
em pé de igualdade", diz Pacheco.
Serão observadas mais de 60 mil
estrelas, e os cientistas esperam
encontrar pelo menos algumas
dezenas de Terras. O satélite também servirá para estudos astrofísicos, observando os chamados
"estelemotos" -equivalentes de
terremotos na superfície das estrelas que podem revelar dados
valiosos sobre processos nas suas
regiões interiores.
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