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PERISCÓPIO
Os sapos cantam de várias maneiras
JOSÉ REIS
especial para a Folha
Todos sabem que os sapos
cantam, assim entendidos aqui
os anfíbios sem cauda (anuros)
como sapos, rãs e pererecas. Esse conhecimento é muito antigo
e inspirou muitas lendas e crendices. Mas o que nem todos talvez saibam é que a grande maioria dos sons produzidos nas zonas próximas a banhados, lagoas e riachos é emitida por esses animais (P.C. Braun e colaboradores, "Natureza em Revista", 5, 11).
O canto dos sapos é muito útil
para a perpetuação da espécie e
também como critério para a
distinção de espécies diferentes,
porém morfologicamente quase
iguais. Há pelo menos sete tipos
de cantos de sapo, o mais importante dos quais é o nupcial.
Consiste o canto nupcial em
sons emitidos durante o período da reprodução. Na grande
maioria dos anfíbios anuros, só
o macho produz esse canto, que
é rigorosamente característico
da espécie.
Devido a ele, a fêmea localiza o
macho e sai à sua procura. Ele
pode ser audível a quilômetros
ou apenas metros. Pode ser emitido de dia, ao crepúsculo, mas,
na maioria das vezes, ocorre à
noite. Os sapos podem cantar
isoladamente ou em coro e os
cantos são de grande variedade.
No canto nupcial, a boca permanece fechada. Ele é gerado
por aparelho vocal formado por
um par de cordas vocais situadas na laringe e pelos sacos vocais, únicos ou duplos.
Em alguns casos, os sacos vocais ligam-se aos sacos aéreos,
espaços linfáticos existentes no
corpo; podem então atingir
grandes dimensões, fazendo o
corpo todo aumentar durante o
canto.
Muito curioso é o canto da separação. Na hora da reprodução, o macho costuma abraçar a
fêmea. Mas se, por engano,
abraça outro macho, este produz característicos sons na parede abdominal e o outro sapo
logo se afasta.
Algumas espécies de sapo
emitem o canto a qualquer hora
do dia, mesmo fora da época da
reprodução. São cantos que, ao
que se diz, acompanham as variações climatológicas, indicando a aproximação de chuva.
De angústia é o canto produzido por alguns anfíbios quando
capturados; ocorre tanto em
machos quanto em fêmeas e é
produzido com a boca aberta.
O canto agressivo é próprio de
espécies de temperamento hostil, como o sapo untanha. Quando irritado, o animal avança,
gritando e abrindo a enorme
boca dotada de dentes na arcada
superior, podendo morder.
O canto territorial marca a
área dominada por certos tipos
de sapo. Quando outro indivíduo penetra essa área, ou território, o dono deste produz grito
típico, que serve de ameaça de
agressão.
Braun e colaboradores contam que, certa vez, para capturar uma rã assobiadora, imitaram o seu canto, de maneira que
ela continuasse cantando, para
bem localizá-la. Quando eles estavam a menos de um metro, a
rã os atacou, dando cabeçadas
em suas botas.
Sinais de alerta são produzidos por alguns sapos quando
atacados por predadores. Esse
canto permite que os companheiros sejam capazes de escapar a tempo.
Outros cantos são repetitivos,
graves e monótonos. Alguns parecem miados ou choro (rãs
choronas), que podem ser em
coro. Há os que imitam bigorna
batida pelo malho (sapo ferreiro) e os que se caracterizam por
sua estridência. Há também
cantos melodiosos, assim como
outros irritantes. Uma perereca
repete o grasnar dos patos, enquanto outra lembra um bando
de galinhas cacarejando.
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