São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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PERISCÓPIO

Os sapos cantam de várias maneiras

JOSÉ REIS
especial para a Folha

Todos sabem que os sapos cantam, assim entendidos aqui os anfíbios sem cauda (anuros) como sapos, rãs e pererecas. Esse conhecimento é muito antigo e inspirou muitas lendas e crendices. Mas o que nem todos talvez saibam é que a grande maioria dos sons produzidos nas zonas próximas a banhados, lagoas e riachos é emitida por esses animais (P.C. Braun e colaboradores, "Natureza em Revista", 5, 11).
O canto dos sapos é muito útil para a perpetuação da espécie e também como critério para a distinção de espécies diferentes, porém morfologicamente quase iguais. Há pelo menos sete tipos de cantos de sapo, o mais importante dos quais é o nupcial.
Consiste o canto nupcial em sons emitidos durante o período da reprodução. Na grande maioria dos anfíbios anuros, só o macho produz esse canto, que é rigorosamente característico da espécie.
Devido a ele, a fêmea localiza o macho e sai à sua procura. Ele pode ser audível a quilômetros ou apenas metros. Pode ser emitido de dia, ao crepúsculo, mas, na maioria das vezes, ocorre à noite. Os sapos podem cantar isoladamente ou em coro e os cantos são de grande variedade.
No canto nupcial, a boca permanece fechada. Ele é gerado por aparelho vocal formado por um par de cordas vocais situadas na laringe e pelos sacos vocais, únicos ou duplos.
Em alguns casos, os sacos vocais ligam-se aos sacos aéreos, espaços linfáticos existentes no corpo; podem então atingir grandes dimensões, fazendo o corpo todo aumentar durante o canto.
Muito curioso é o canto da separação. Na hora da reprodução, o macho costuma abraçar a fêmea. Mas se, por engano, abraça outro macho, este produz característicos sons na parede abdominal e o outro sapo logo se afasta.
Algumas espécies de sapo emitem o canto a qualquer hora do dia, mesmo fora da época da reprodução. São cantos que, ao que se diz, acompanham as variações climatológicas, indicando a aproximação de chuva.
De angústia é o canto produzido por alguns anfíbios quando capturados; ocorre tanto em machos quanto em fêmeas e é produzido com a boca aberta.
O canto agressivo é próprio de espécies de temperamento hostil, como o sapo untanha. Quando irritado, o animal avança, gritando e abrindo a enorme boca dotada de dentes na arcada superior, podendo morder.
O canto territorial marca a área dominada por certos tipos de sapo. Quando outro indivíduo penetra essa área, ou território, o dono deste produz grito típico, que serve de ameaça de agressão.
Braun e colaboradores contam que, certa vez, para capturar uma rã assobiadora, imitaram o seu canto, de maneira que ela continuasse cantando, para bem localizá-la. Quando eles estavam a menos de um metro, a rã os atacou, dando cabeçadas em suas botas.
Sinais de alerta são produzidos por alguns sapos quando atacados por predadores. Esse canto permite que os companheiros sejam capazes de escapar a tempo.
Outros cantos são repetitivos, graves e monótonos. Alguns parecem miados ou choro (rãs choronas), que podem ser em coro. Há os que imitam bigorna batida pelo malho (sapo ferreiro) e os que se caracterizam por sua estridência. Há também cantos melodiosos, assim como outros irritantes. Uma perereca repete o grasnar dos patos, enquanto outra lembra um bando de galinhas cacarejando.


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