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FUTURO
Bicho-da-seda recebe novo gene e se torna fluorescente; experimento pode
melhorar produção do tecido no Japão
"Brilho-da-seda'
MARCELO FERRONI
da Reportagem Local
A genética chegou à produção de
seda no Japão. Cientistas inseriram um gene que cria um composto fluorescente no bicho-da-seda, em um estudo que
pode abrir caminho para o desenvolvimento de novas texturas do
tecido.
O inseto "turbinado" não produziu ainda seda fluorescente,
mas, segundo Hajime Mori, pesquisador que participou do estudo, o experimento pode levar, por
exemplo, ao desenvolvimento de
sedas mais resistentes a partir da
inserção de novos genes.
"Poderíamos inserir no bicho-da-seda genes que produzem
a teia de aranha para criar tecidos
resistentes, que poderiam ser usados em coletes à prova de bala ou
no tecido de pára-quedas", afirmou Mori, em entrevista por
e-mail à Folha.
A modificação do bicho-da-seda
(de nome científico Bombix mori)
foi divulgada na revista "Genes &
Development" de 1º de março
deste ano por pesquisadores do
Instituto de Tecnologia de Kyoto,
do Instituto Nacional de Ciência
de Sericultura e Entomologia e da
Fundação Kinugasakai.
No estudo, os cientistas inseriram em fêmeas do bicho-da-seda
o gene GFP, que, quando ativado,
produz uma proteína fluorescente. Sua fluorescência pode ser observada com a ajuda de uma luz
ultravioleta.
Em seguida, a fêmea cruzou com
insetos normais e gerou novos bichos-da-seda, que, segundo os
pesquisadores, apresentaram o
gene GFP em sua composição.
Quando expostos aos raios ultravioleta, esses bichos-da-seda
apresentaram traços de fluorescência pelo corpo.
A proteína gerada pelo gene foi
detectada também nas glândulas
que produzem a seda, que ficaram
fluorescentes com a luz ultravioleta, e nos fios de seus casulos.
Mas os casulos não ficaram brilhando na presença da luz especial, apesar de conterem a proteína produzida pelo GFP. A sua presença foi descoberta porque houve
uma reação quando os pesquisadores colocaram a fibra em contato com um anticorpo.
"O GFP é inadequado para a
produção de seda colorida ou
fluorescente. Mas outras proteínas, como a luciferase e algumas
encontradas em micróbios, poderiam ser úteis para a produção do
tecido em cores", disse Mori.
Além do uso prático do estudo
-produzir novos tipos de fibras-, os pesquisadores indicaram também, em seu estudo na
"Genes & Development", que
"as manipulações genéticas serão
importantes para esclarecer o funcionamento da expressão de genes
e para introduzir novas formas de
cultivar insetos benéficos".
Segundo Mori, "poderemos
produzir novas proteínas, vacinas
e enzimas com os insetos modificados". Se novos estudos aperfeiçoarem a técnica, disse o cientista,
será possível o desenvolvimento
de um novo sistema de sericultura
(produção de bichos-da-seda).
Terapia genética
O gene foi inserido no bicho-da-seda por meio de terapia
genética, ou seja, os pesquisadores
usaram um vírus enfraquecido como "meio de transporte" para levar o GFP ao material genético do
inseto fêmea.
O vírus é enfraquecido e recebe
nova carga genética. Em seguida, é
inserido no inseto e "ataca" as
células do bicho-da-seda, passando o material genético que interessa ao pesquisadores.
O gene GFP é usado em pesquisas de terapia genética como um
indicador que determina se a experiência deu certo ou não.
Como exemplo, pesquisadores
do Instituto Salk para Estudos
Biológicos e do Instituto de Pesquisa Scripps, em La Jolla, na Califórnia, usaram o gene GFP para
testar um método de levar novos
genes a células sanguíneas usando, para isso, o vírus enfraquecido
da Aids.
O GFP era passado do HIV para
as células sanguíneas de ratos.
Com a luz ultravioleta, os pesquisadores viam que as células "brilhavam" e, portanto, continham a
substância fluorescente produzida
pelo novo gene.
Os resultados foram publicados
em 29 de janeiro na revista norte-americana "Science".
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