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SBPC
Dados de instrumento brasileiro em satélite gerenciado pela Nasa começam a ser usados até o fim do ano, diz cientista
Sonda Aqua aperfeiçoa previsão de chuva
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA
Até o final do ano um sensor brasileiro de apenas 60 kg a bordo
de um satélite espacial do tamanho de um microônibus vai aperfeiçoar a previsão das chuvas pelo Brasil -e portanto contribuir para diminuir os riscos de inundações, como as que certamente castigarão a Grande São Paulo na
próxima estação chuvosa.
O HSB -sigla em inglês para
Sensor de Umidade para o Brasil
("Humidity Sounder for Brazil")- foi lançado em maio a bordo do satélite americano Aqua,
que faz parte de um abrangente
programa de observações espaciais da Terra, o EOS. O objetivo é
obter informações sobre as mudanças climáticas pelas quais está
passando o planeta, notadamente
as causadas pelo homem.
"Estamos verificando os parâmetros de calibragem do instrumento. Em agosto já teremos informações úteis para pesquisa. E
em seis meses os centros meteorológicos começarão a assimilar
os dados", disse Roberto Vicente
Calheiros, da Unesp em Bauru
(SP), que ontem fez uma palestra
na reunião da SBPC (Sociedade
Brasileira para o Progresso da
Ciência) abordando o tema.
O HSB é um instrumento que
faz a varredura da atmosfera por
microondas para obter dados de
intensidade de chuva, densidade
de nuvens e perfis de vapor d'água. Seu desenvolvimento por
uma empresa estrangeira -mas
incluindo alguns componentes
fabricados no Brasil- foi coordenado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que
também fez os testes iniciais de
calibragem em sua sede em São
José dos Campos (SP). Técnicos
do Inpe depois integraram o instrumento ao satélite nos EUA.
"É o melhor instrumento hoje a
bordo do satélite, com a melhor
sensibilidade", diz Calheiros. O
sensor foi projetado para se adequar às necessidades específicas
do Brasil.
Dimensões continentais
Devido à sua extensão, o país é
muito dependente de satélites para a obtenção de dados que englobem todo o território. Há regiões
de difícil acesso, como o interior
da Amazônia, onde é mais complicado obter dados meteorológicos contínuos e de qualidade.
Os comitês da comunidade
científica internacional ligados ao
estudo das mudanças climáticas
elegeram as principais informações que precisam ser coletadas
de modo sistemático para não só
melhorar a qualidade das previsões de tempo, como também obter dados para os modelos de simulação do clima.
São coisas como cobertura do
solo, coloração do oceano, sondagens da atmosfera ou o balanço
da radiação da Terra (o que entra
e o que sai de energia radiante, como a solar).
"Ainda não temos medidas
confiáveis de umidade do solo",
diz Calheiros. E um dos maiores
problemas em sensoriamento
ambiental continua sendo a redundância de informação -os
mesmos dados captados por satélites de diferentes países ou instituições pelo mundo.
"É um conjunto muito complexo de variáveis", afirmou outro
pesquisador na palestra, Juan Ceballos, do Inpe. E essas variáveis
interagem dinamicamente.
Por exemplo, a fumaça das
queimadas brasileiras - "um círculo de fogo em volta da Amazônia"- cobre milhões de quilômetros quadrados, e com isso altera a formação das nuvens e das
chuvas em uma vasta região, incluindo o Sudeste brasileiro, afirma Ceballos.
O pesquisador do Inpe lembrou a dimensão da mudança que a ação humana está provocando ao emitir gases, principalmente através de atividades industriais, que ampliam o efeito estufa (aprisionamento da radiação na atmosfera). "Nos anos 80 e 90 houve o maior aumento de emissões dos últimos 420 mil anos", diz ele. Em
1800 o gás carbônico na atmosfera, o principal causador do efeito,
estava na proporção de 280 ppm (partes por milhão); hoje, o índice
está em torno de 360 ppm.
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