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Unidade de conservação perde florestas
Pesquisa indica que 37,3% das áreas sob proteção legal na Amazônia não estão conseguindo barrar o desmatamento
No Maranhão, 17 das 20
unidades de conservação
avaliadas por pesquisadores
estão ameaçadas pelo
avanço da agropecuária
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A simples demarcação das
unidades de conservação na
Amazônia Legal não é suficiente para impedir a derrubada da
floresta. A pressão da atividade
humana ameaça 37,3% das
áreas sob proteção legal, revela
um cruzamento de dados de
mapas digitais feitos por pesquisadores brasileiros. Os dados são referentes ao desflorestamento acumulado até 2004.
O quadro mais dramático é o
do Maranhão. Das 20 áreas
protegidas estudadas no Estado, 17 não estão contendo o
processo de desmatamento.
"Isso não significa que unidades de conservação não funcionem. Muito pelo contrário.
Elas são ferramentas importantes para a preservação da
floresta" diz Leandro Ferreira,
do Museu Paraense Emílio
Goeldi, autor do estudo. Ele
contou com a colaboração de
Eduardo Venticinque, da ONG
Wildlife Conservation Society,
na compilação dos dados.
Das 727 unidades de conservação da Amazônia, a pesquisa
analisou 424. Juntas, elas somam mais de 150 milhões de
hectares. Ao investigar as florestas protegidas que correm
mais riscos -sempre por causa
da pressão externa, que é cada
vez mais alta-, a dupla de cientistas conseguiu identificar o
tipo de unidade de conservação
mais frágil. Esse título vai para
as APAs (áreas de proteção ambiental). Essa categoria está
dentro das chamadas regiões
de uso sustentável, em oposição às de proteção integral.
"Isso ocorre também por falta de uma implementação real
dessas unidades de conservação", afirma Ferreira. "Muitas
precisam sair do papel, mas
não sou contra as APAs". Do total do desmatamento identificado pela análise de dados,
20,1% ocorreu só nesse tipo de
zona protegida. O segundo da
lista, com apenas 3,8%, é o da
reserva extrativista.
Planos de ação
Para Maurício Mercadante,
diretor de Áreas Protegidas do
Ministério do Meio Ambiente,
o estudo pode ser lido por um
outro prisma. "A pesquisa também mostra que mesmo onde
ainda não existe um plano de
manejo implementado, a unidade de conservação tem uma
importância grande". Segundo
o representante do governo,
dez planos de manejo estão em
fase de elaboração atualmente
para a floresta amazônica.
Além de saber como aquela
área será gerenciada, explica
Mercadante, outras estratégias
são essenciais. "É preciso também ter infra-estrutura adequada, equipe de trabalho e fiscalização. E estamos avançado
em todas essas frentes", disse.
Segundo o MMA, 287 unidades federais de conservação
ambiental em todo o Brasil, só
53 têm planos de manejo. Outros 62 estão em fase de elaboração e mais 13 sob revisão.
"Estes números estão sendo revisados e teremos uma idéia
melhor deles no fim do ano",
afirma Mercadante.
Algumas zonas emblemáticas mostram extremos da pressão exercida sobre a floresta.
Enquanto em Rondônia, na
terra indígena Uru-eu-wau-wau, o desmatamento foi de 1%
("Os índios matam quem invadir aquela área para derrubar
árvore", diz Ferreira), o Parque
Nacional do Xingu está à beira
de ceder às pressões, por causa
da pressão da pecuária e da soja. Ao contrário das APAs, as
áreas sob proteção integral e as
terras indígenas registraram
um impacto antrópico (de atividade humana) menor, segundo o estudo.
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