São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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AMAZÔNIA

Mudança vai consumir R$ 25 mil e interromper série histórica de dados iniciada em 98; instalação é do projeto LBA

Grileiros ameaçam torre de pesquisa em RO

Antonio Manzi/Inpe-CPTEC
Torre ameaçada do projeto LBA, com o rio Ji-Paraná ao fundo


FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA

Uma pesquisa sobre o efeito das queimadas no clima da Amazônia, desenvolvida por instituições brasileiras com a participação da Nasa (agência espacial norte-americana) e da União Européia, está sendo ameaçada por grileiros em Rondônia. Uma torre metálica para medições climáticas terá de ser removida, prejudicando coleta de dados que vinha ocorrendo desde 1998.
A base ameaçada fica na Reserva Biológica do Jaru, no município de Ji-Paraná, na divisa de Rondônia com Mato Grosso. Uma torre de 60 m mede condições atmosféricas e indicadores físico-químicos, além de servir como ponto de observação. Também há torres de medição em Manaus (AM) e Santarém (PA).
De acordo com a coordenadora no local, a professora-titular do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP (Universidade de São Paulo), Maria Assunção Dias, grileiros sabotaram a torre e ameaçaram pesquisadores de morte.
"Eles cortaram os cabos que sustentam o pára-raios, deixaram cápsulas de bala na área e disseram para mim que haveria mortes. Também apareceram em uma palestra que dei em Ouro Preto do Oeste e fizeram um agito durante as perguntas", disse a pesquisadora.
Os grileiros alegam que a área ocupada pelos cientistas pertence a eles. Segundo o gerente-executivo substituto do Ibama em Ji-Paraná, Carlos Brandão, que foi chefe da Reserva do Jaru por oito anos, uma fazenda no entorno da área de proteção foi invadida por cerca de 2.000 pessoas, que depois também entraram na reserva.
"Eles dizem que a área onde está a torre é deles, quando na verdade não é. Estão contestando os marcos reais que foram estabelecidos por decreto", afirmou Brandão.

O LBA
A pesquisa faz parte do LBA (sigla inglesa abreviada para Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), capitaneado por instituições como Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e USP.
Seu objetivo é entender o metabolismo da floresta, ou seja, as relações entre clima, ecologia, química (solo, águas e atmosfera) e regime hidrológico da Amazônia, além do impacto das mudanças no uso da terra e das queimadas, inclusive sobre o ambiente global.
A torre custou US$ 70 mil e contém mais US$ 150 mil em equipamentos. Foi instalada em 1998, perto de uma outra torre, menos equipada, de 55 m e US$ 60 mil de custo, que estava no local desde 1991 e agora foi desmontada.
Além do custo da mudança, cerca de R$ 25 mil, dados sobre o solo e a atmosfera no local perderão a série histórica, porque cada área da floresta tem uma característica específica. Outros prejudicados serão alunos e professores da Unir (Universidade de Rondônia) e da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil, em Manaus), que vinham utilizando as instalações.
A mudança também é necessária porque os grileiros vêm devastando a área. "Nossa intenção era medir as condições de floresta virgem. Com o desmatamento e as queimadas, a área foi descaracterizada. Vamos para uma região mais para o interior da reserva", disse Maria Assunção Dias.
Os grileiros também querem afastar os pesquisadores porque a torre é um ponto de observação que pode dar a dimensão exata para as autoridades do estrago que eles estão fazendo na reserva.
O gerente do Ibama em Ji-Paraná afirmou que já foi iniciada uma licitação para reforçar a demarcação, embora ele mesmo diga que isso não resolverá os problemas. "Vamos contratar uma empresa para fazer uma linha visível entre a fazenda e a reserva."

Mais problemas
A situação não se resume a Jaru. Teoricamente protegidas por legislação federal, as 12 unidades de conservação situadas em Rondônia estão invadidas por grileiros, madeireiras ou garimpeiros.
Para Brandão, um dos problemas é que o Ibama não dá conta de fazer a fiscalização. "Não adianta, a gente pede a ajuda da Polícia Federal, os invasores são retirados, mas logo depois retornam", afirma.


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