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COPENHAGUE 2009
Década atual é a mais quente da história
Temperaturas entre 2000 e 2009 estão, em média, 0,4°C mais elevadas, afirma Organização Meteorológica Mundial
Este ano caminha para ser o quinto mais quente; Sul do Brasil, Índia e China tiveram ondas de calor severas, diz estudo divulgado ontem
DA REPORTAGEM LOCAL
Os anos que vão de 2000 a
2009 correspondem, por enquanto, à década mais quente
da história desde que medições
confiáveis começaram, em
meados do século 19. A década
de 2000 supera com folga os
anos 1990, derrubando a tese
de que o aquecimento global teria "estacionado" ou até "começado a diminuir" a partir de
1998 -ano que, isoladamente, é
o mais quente já registrado.
Os dados, divulgados durante
a conferência climática de Copenhague pela OMM (Organização Meteorológica Mundial),
indicam que 2009 provavelmente será o quinto ano mais
quente da história, com temperatura 0,44°C superior à média
do período de referência, que
vai de 1961 a 1990. Este ano registrou um dos outonos mais
quentes da história no Sul do
Brasil, e temperaturas acima de
40°C no centro da Argentina.
"Sólido"
"Ainda temos um mês até o
fim do ano, e esperamos divulgar os dados totalmente consolidados em março de 2010, mas
podemos dizer que o resultado
até aqui é bastante sólido", disse Michel Jarraud, secretário-geral da OMM. "Certamente
2009 estará entre os dez anos
mais quentes da história."
Um fator importante para o
calor de 2009 é a ação de um El
Niño, fenômeno caracterizado
pelo aquecimento anormal das
águas equatoriais do oceano
Pacífico. O mesmo tipo de
evento contribuiu para os termômetros em alta durante
1998. Nos últimos meses, as
consequências foram sérias para vários países em desenvolvimento. Na Índia, uma onda de
calor matou 150 pessoas em
maio, enquanto o norte da China viveu o ano mais quente de
sua história, com temperaturas
de verão acima de 40°C.
"Os dados não surpreendem", disse à Folha o físico
Paulo Artaxo, especialista em
mudanças climáticas da USP.
"O que esses e outros dados
mostram, sem praticamente
nenhuma exceção, é que o
aquecimento supera muito o
que esperaríamos de fatores
naturais, de qualquer lado que
você olhe a questão."
Para Artaxo, a média de temperaturas elevadas ao longo
das décadas de 1990 e 2000 "é
muito mais representativa" do
que anos quentes isolados.
"Mas é claro que o ideal é você
ter uma série histórica de 30
anos, 50 anos, um século", diz.
Apesar da aparente robustez
dos resultados, a primeira pergunta feita por jornalistas a
Jarraud ontem envolvia o uso
de dados da Universidade de
East Anglia (Reino Unido). Os
climatologistas da instituição
foram afetados por um roubo
de e-mails, perpetrado por hackers, os quais tentaram usar as
mensagens como prova de que
os pesquisadores manipulavam seus estudos.
"Sim, usamos os dados deles,
mas também utilizamos dois
conjuntos independentes de
dados [da Nasa e da Administração Nacional de Oceanos e
Atmosfera dos EUA]. E, como
vocês podem ver, as três curvas
são quase idênticas", afirmou.
Jarraud reforçou que "passamos por uma tendência clara
de aquecimento", mas disse
que ainda é cedo para dizer se a
próxima década será mais
quente que as últimas duas.
(REINALDO JOSÉ LOPES)
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