São Paulo, domingo, 10 de julho de 2005 |
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Micro/Macro Impacto muito profundo
MARCELO GLEISER
Cometas são objetos que circulam nas bordas do Sistema Solar, resquícios de sua origem ocorrida há 4,6 bilhões de anos. Pode-se até dizer que são uma espécie de lixo cósmico, detritos que não foram absorvidos quando Júpiter, Saturno, Urano e Netuno foram formados. Portanto, o material que compõe cometas é o mesmo que existia quando os planetas nasceram. Ao estudá-los, estamos na verdade olhando para a infância do Sistema Solar e, portanto, da Terra. Isso se torna ainda mais importante devido ao fato de a Terra ter sido bombardeada intensamente por cometas durante seu primeiro bilhão de anos. Segundo teorias atuais, a água que temos aqui foi trazida por esses bólidos; o surgimento da vida só foi possível por causa deles. Existem dois berçários de cometas. Um, chamado de cinturão de Kuiper, fica um pouco além da órbita de Netuno. O outro, a nuvem de Oort, fica bem mais afastado. Tal como planetas, cometas também giram em torno do Sol. De vez em quando, um deles tem sua órbita desestabilizada e viaja em direção ao coração do Sistema Solar. Caso sua rota coincida com a da Terra, um impacto é inevitável. Ou pelo menos era. Ainda é cedo para relatar o que foi aprendido com a colisão, ao menos no que diz respeito à composição do cometa. Parece que ele contém água, que o seu interior é bem mais duro do que o seu exterior, provavelmente rochoso. O cometa parece ser totalmente negro e conter crateras, algo que não era previsto nesses objetos. Serão meses, anos, até que os dados sejam devidamente analisados. O que é imediatamente óbvio é que temos a tecnologia necessária para interceptar esses objetos celestes. E de modo ainda mais eficiente (mas não tão emocionante) que nos filmes, sem a intervenção direta de humanos. A missão foi controlada da Terra, desde o projeto inicial e lançamento até os 172 dias de viagem que precederam o impacto. Deixamos de ser apenas alvos de possíveis impactos cataclísmicos. De agora em diante, sabemos que podemos nos defender, caso a ficção se torne realidade mais uma vez. Marcelo Gleiser é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "O Fim da Terra e do Céu" Texto Anterior: Terra de gigantes Próximo Texto: Ciência em Dia: A explosão fria do DNA Índice |
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