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Aquecimento baterá recorde após 2009
Temperaturas devem se estabilizar nos próximos dois anos, mas terão subida drástica logo em seguida, dizem cientistas
Britânicos lançam modelo
de computador mais preciso
para prever o clima; grupo
quer enxergar El Niño com
até 10 anos de antecedência
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um novo modelo de computador para prever a evolução do
clima indica que as temperaturas médias da Terra vão se estabilizar até 2009, mas vão retomar logo em seguida uma curva
acentuada de aquecimento global. Até 2015, afirmam cientistas, dois ou três anos deverão
bater o recorde de calor de
1998, o ano mais quente já registrado na história.
A previsão foi feita por cientistas do Centro Hadley, da Inglaterra, que nos últimos anos
apresentou vários dos modelos
que se mostraram os melhores.
A nova ferramenta é, basicamente, a mesma que cientistas
já vinham usando.
Agora, as máquinas recebem
mais informação antes de processá-las usando fórmulas para
fazer as previsões.
"Boa parte dos novos dados
vêm de observações de temperatura do oceano e de sua salinidade", disse à Folha o climatologista Doug Smith, que liderou o estudo. "Antes, a temperatura era medida a partir de
navios, com equipamentos em
cordas. Agora temos uma cobertura muito maior: existem
estações-bóia há 3.000 metros
de profundidade que sobem à
superfície periodicamente e
medem um perfil de temperaturas nos oceanos."
Os cientistas já atestaram a
confiabilidade do método fazendo previsões do clima atual
baseando-se apenas em informações disponíveis na década
de 1980. Uma prova definitiva
de que a ferramenta é útil porém, virá apenas com o tempo.
A grande força do novo modelo está em conseguir prever
fenômenos da variabilidade
natural do clima, como, por
exemplo, o El Niño (o superaquecimento das águas equatoriais do Pacífico) e o La Niña
(resfriamento daquela região).
"Hoje, as previsões de El niño e La Niña com até um ano
de antecedência são boas, mas
eles [o Centro Hadley] estão
querendo fazer isso com dez
anos de antecedência", diz Carlos Nobre, cientista do CPTEC
(Centro de Previsão de Tempo
e Estudos Climáticos).
"Se eles provarem que é possível fazer essa previsão decadal, será um resultado científico de grande repercussão, e
eles estão sendo os primeiros a
divulgar isso. Mas só depois de
2009 é que a gente vai saber se
o modelo acertou na previsão."
O modelo e a previsão estão
detalhados em estudo na edição de hoje da revista "Science"
(www.sciencemag.org). "Estamos prevendo um achatamento das temperaturas médias globais pelos próximos
poucos anos e depois um retorno à tendência já conhecida de
aquecimento global", diz
Smith. "A razão disso é mesmo
a variabilidade natural do clima nos oceanos."
Segundo os cientistas, a disponibilidade de mais dados e a
criação de estruturas matemáticas que permitem processá-los de maneira mais coerente
ajudará a pesquisa a separar
quais fenômenos climáticos
são mais atribuíveis ao aquecimento global e quais são mais
um fruto da variação do clima.
"Mas esse estudo também já
começa a desenvolver um sistema de modelagem que mostra como o aquecimento global
pode afetar a própria variabilidade natural", diz Nobre.
"Isso que está acontecendo
no primeiro semestre deste
ano -as inundações, as ondas
de seca, as altíssimas temperaturas em parte da Europa etc.-
é o clima variando naturalmente, só que ficando mais intenso.
Essa intensificação das variações naturais é atribuível ao
aquecimento global."
Reflexo prejudicado
Em outro estudo na "Science" cientistas mostram como a
fuligem -um produto da poluição diferente do dióxido de carbono que causa o aquecimento
global- também pode contribuir para a crise do clima.
A neve do Ártico, que reflete
o Sol e ajuda a resfriar a Terra,
recebeu uma carga dessas partículas sete vezes maior que o
normal entre os séculos 19 e 20,
diz o trabalho. Vinda sobretudo
da queima de carvão, essa fuligem prejudica a capacidade reflexiva do gelo, fazendo a Terra
absorver mais calor.
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