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São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2003

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ASTROBIOLOGIA

Corte orçamentário prejudicou satélite Eddington, de lançamento planejado para 2008, além de outras sondas

Europa cancela missão que rastrearia novas "Terras"

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pela primeira vez em sua história, a ESA (Agência Espacial Européia) cancelou uma missão previamente aprovada em seu programa, gerando protestos consternados da comunidade científica. A vítima da ceifa foi a missão Eddington, que deveria fazer observações de alta precisão à procura de planetas como a Terra além do Sistema Solar.
O corte foi feito para reequilibrar o orçamento da agência, que enfrentou vários imprevistos nos últimos tempos, como o adiamento do envio da sonda Rosetta a um cometa, que deveria ter ocorrido no início deste ano.
Além do Eddington, também foi tragado pela leva de cortes o módulo de pouso da sonda BepiColombo, que a ESA pretendia enviar ao planeta Mercúrio. Com os remanejamentos, apenas a porção orbitadora desse projeto foi mantida.
Batizado em homenagem ao astrônomo inglês Arthur Eddington (1882-1944), o satélite caçador de planetas extra-solares estava programado para um lançamento em 2008, e vários contratos com a indústria aeroespacial para a fabricação de seus elementos já haviam sido assinados.
Com instrumentos de alta precisão, o satélite deveria ser posicionado a cerca de 1,5 milhão de quilômetros da Terra, a qual ocultaria o tempo inteiro a luz proveniente do Sol, que poderia atrapalhá-lo. Suas observações iriam se concentrar nas estrelas, tentando perceber pequenas variações em seu brilho que denotassem a presença de um planeta -método conhecido como "trânsito".
A comparação usual feita pelos cientistas do projeto é a de que, observando uma nuvem de 10 mil vaga-lumes, se apenas um deles se apagasse, o Eddington perceberia a diferença.
"Ele seria capaz de ver até planetas do tamanho de Marte [que tem metade do diâmetro terrestre]", diz Eduardo Janot Pacheco, astrônomo do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. "É realmente uma perda lastimável."
Ainda assim, a comunidade científica européia poderá se manter na liderança da busca por planetas similares à Terra. O satélite Corot (que é um projeto principalmente francês e conta com significativa participação brasileira) é basicamente uma versão em escala menor do Eddington -e tem seu lançamento programado para o início de 2005.
Janot Pacheco foi o principal articulador da participação nacional no projeto, que deve ser o primeiro a estar habilitado a encontrar outras Terras. "Ele tem capacidade de detectar planetas com até 1,2 [diâmetro da] Terra", afirma o pesquisador da USP.
Com o Corot, deve realmente começar a busca pelos chamados planetas habitáveis. E, apesar do cancelamento do Eddington, essa pesquisa deve se aprofundar ainda mais no futuro. Para 2007, a Nasa (agência espacial americana) pretende lançar o Kepler -sua própria versão do satélite caça-planetas europeu.
Mais tarde, por volta da segunda década do século 21, Nasa e ESA terão grandes constelações de satélites caçando planetas extra-solares, na forma dos projetos TPF (Terrrestrial Planet Finder) e Darwin, respectivamente.
De posse dos resultados, os astrônomos poderão começar a responder a mãe de todas as perguntas: quão rara a vida tende a ser no Universo.



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