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ASTROBIOLOGIA
Corte orçamentário prejudicou satélite Eddington, de lançamento planejado para 2008, além de outras sondas
Europa cancela missão que rastrearia novas "Terras"
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pela primeira vez em sua história, a ESA (Agência Espacial Européia) cancelou uma missão previamente aprovada em seu programa, gerando protestos consternados da comunidade científica. A vítima da ceifa foi a missão
Eddington, que deveria fazer observações de alta precisão à procura de planetas como a Terra
além do Sistema Solar.
O corte foi feito para reequilibrar o orçamento da agência, que
enfrentou vários imprevistos nos
últimos tempos, como o adiamento do envio da sonda Rosetta
a um cometa, que deveria ter
ocorrido no início deste ano.
Além do Eddington, também
foi tragado pela leva de cortes o
módulo de pouso da sonda BepiColombo, que a ESA pretendia
enviar ao planeta Mercúrio. Com
os remanejamentos, apenas a
porção orbitadora desse projeto
foi mantida.
Batizado em homenagem ao astrônomo inglês Arthur Eddington (1882-1944), o satélite caçador
de planetas extra-solares estava
programado para um lançamento em 2008, e vários contratos
com a indústria aeroespacial para
a fabricação de seus elementos já
haviam sido assinados.
Com instrumentos de alta precisão, o satélite deveria ser posicionado a cerca de 1,5 milhão de
quilômetros da Terra, a qual ocultaria o tempo inteiro a luz proveniente do Sol, que poderia atrapalhá-lo. Suas observações iriam se
concentrar nas estrelas, tentando
perceber pequenas variações em
seu brilho que denotassem a presença de um planeta -método
conhecido como "trânsito".
A comparação usual feita pelos
cientistas do projeto é a de que,
observando uma nuvem de 10 mil
vaga-lumes, se apenas um deles se
apagasse, o Eddington perceberia
a diferença.
"Ele seria capaz de ver até planetas do tamanho de Marte [que
tem metade do diâmetro terrestre]", diz Eduardo Janot Pacheco,
astrônomo do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. "É realmente
uma perda lastimável."
Ainda assim, a comunidade
científica européia poderá se
manter na liderança da busca por
planetas similares à Terra. O satélite Corot (que é um projeto principalmente francês e conta com
significativa participação brasileira) é basicamente uma versão em
escala menor do Eddington -e
tem seu lançamento programado
para o início de 2005.
Janot Pacheco foi o principal articulador da participação nacional no projeto, que deve ser o primeiro a estar habilitado a encontrar outras Terras. "Ele tem capacidade de detectar planetas com
até 1,2 [diâmetro da] Terra", afirma o pesquisador da USP.
Com o Corot, deve realmente
começar a busca pelos chamados
planetas habitáveis. E, apesar do
cancelamento do Eddington, essa
pesquisa deve se aprofundar ainda mais no futuro. Para 2007, a
Nasa (agência espacial americana) pretende lançar o Kepler
-sua própria versão do satélite
caça-planetas europeu.
Mais tarde, por volta da segunda década do século 21, Nasa e
ESA terão grandes constelações
de satélites caçando planetas extra-solares, na forma dos projetos
TPF (Terrrestrial Planet Finder) e
Darwin, respectivamente.
De posse dos resultados, os astrônomos poderão começar a responder a mãe de todas as perguntas: quão rara a vida tende a ser no
Universo.
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