São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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Carioca cria máquina de multiplicar célula-tronco

Tecnologia da UFRJ permitirá obter bilhões de células para uso em terapia

Método criado pelo grupo do biólogo Stevens Rehen usa esferas de açúcar para produzir duas vezes mais material pelo mesmo custo


Roberto Price/Folha Imagem
Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, posa com imagem de cultura de células-tronco em seu laboratório

EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Quando se trata de tentar curar doenças graves, não basta simplesmente obter uma linhagem de células-tronco embrionárias humanas -feito anunciado por pesquisadores brasileiros no mês passado. Como no futuro, em uma terapia, um paciente terá de receber 1 milhão de células por quilo de peso, criar uma maravilhosa máquina de multiplicação desse material celular nobre é mais do que fundamental.
Às margens da baía da Guanabara, pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) resolveram aceitar o desafio. E os resultados obtidos até agora permitem afirmar que não será por falta de células-tronco embrionárias humanas que as terapias -ou pelo menos os primeiros testes pré-clínicos- vão naufragar. Bilhões delas poderão ser obtidas pelo método brasileiro.
Para entrar na sala do biorreator fluminense, que fica na Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia) da UFRJ, todo o cuidado é pouco. O repórter teve de usar touca, luvas e máscara, além de vestir um avental e cobrir os sempre sujos sapatos.
O perigo que existe não é para as pessoas. Dentro da "sala limpa", como os cientistas chamam aquele espaço, mais purificado do que uma sala cirúrgica, o risco é de o material que está lá ser contaminado pelo que vem de fora.
Grosso modo, um biorreator é uma enorme placa de cultura onde um material biológico qualquer é produzido em grande escala. No caso das células-tronco, no biorreator elas recebem tudo de que precisam para se multiplicar: nutrientes, estímulos químicos e um substrato -um meio ao qual aderir.
O biorreator carioca é um gigantesco tubo de ensaio, que mais parece um balde, com capacidade para receber cinco litros de células-tronco embrionárias. Acoplado a ele está um computador, que permite que todos os ajustes ao equipamento sejam feitos à distância, sem que nenhum cientista precise pôr suas mãozinhas contaminadas sobre as frágeis células.
Mas o pulo do gato científico, como revela o engenheiro químico Paulo André Nóbrega Marinho, é praticamente invisível. Por causa de milhares microesferas de açúcar, o biorreator consegue produzir o dobro de células-tronco embrionárias pelo mesmo preço que o método convencional (que usa pequenos tubinhos de nove centímetros quadrados de área cada um). Cifras exatas ainda são muito difíceis de estimar.
Essas bolinhas, no tubo gigante, fazem aumentar a área disponível para a adesão das células. "Não fomos nós que criamos essas microesferas. Mas essa adaptação para as células-tronco embrionárias humanas só é feita aqui", afirma a química Aline Marie Fernandes.
A dupla de jovens doutorandos é orientada, respectivamente, por Leda Castilho (Coppe) e Stevens Rehen (Departamento de Anatomia).
"Com esses polímeros de açúcar, que são meio amassados, na verdade, existe mais espaço para as células aderirem ao substrato e crescerem", diz Marinho. Nas contas dele, o ganho total de área é expressivo. Em um grama de bolinhas -cada uma tem 0,2 milímetro de espessura- há uma superfície de 0,3 metro quadrado.
"O que significa que em todo o biorreator, que comporta 15 gramas de microesferas, existe uma área tridimensional para ser conquistada pelas colônias celulares de 4,5 metros quadrados", diz Marinho.


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