|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Micro/Macro
Invenções e curiosidades de 2003
Marcelo Gleiser
especial para a Folha
No dia 14 de dezembro, foi publicada
na revista dominical do jornal "The
New York Times" uma lista das melhores e piores idéias e invenções de 2003.
Mesmo que não tenha espaço para discorrer sobre todas elas, acho que vale a
pena citar algumas das mais interessantes, em especial aquelas ligadas à ciência
e à tecnologia.
Asas humanas - Pela primeira vez um
ser humano conseguiu voar sem motores ou aviões. Felix Baumgartner pulou
de um avião a 10 mil metros munido apenas de um par de asas de fibra de carbono com dois metros de extensão, uma espécie de miniasa-delta presa nos braços
do voador.
Seu objetivo era voar da Inglaterra até a
França, avançando um metro para cada
quatro de queda a uma velocidade de 330
km/h. Quando atingiu altitude de mil
metros, a costa da França estava já à vista. A aterrissagem foi por pára-quedas.
Uma companhia austríaca planeja vender a "Arraia Celeste" em breve. (Acho
que em português o nome não vai pegar.
"Asas Humanas" parece bem melhor.)
Militares e atletas de esportes extremos
já estão de olho.
Minibombas nucleares - Como se já
não houvesse controvérsia de sobra na
área de proliferação nuclear, o governo
americano está discutindo minibombas
atômicas, com capacidade de até 1/3 da
que destruiu Hiroshima. A idéia é manter a política de detenção usando minibombas para assustar os novos inimigos da paz: células terroristas escondidas em
cavernas (Afeganistão) ou programas
nucleares clandestinos (o inexistente
programa iraquiano, que supostamente
ocorria em galpões subterrâneos). Mesmo que menores, as bombas geram
enormes quantidades de radiação e podem ser detonadas em alvos errados ou
inexistentes, como o programa nuclear
iraquiano. Ou com objetivos terroristas,
como o Pentágono.
Câncer, a vacina - Descobrir uma vacina contra o câncer é um sonho antigo.
Mas um laboratório de biotecnologia
americano parece ter dado um passo na
direção certa. As células cancerígenas se
parecem muito com células normais, ao
menos o suficiente para enganar as células dendríticas, as primeiras a reconhecer um objeto estranho invadindo o corpo. Com isso, as células cancerígenas
permanecem no corpo sem encontrar
resistência. Isolando as células dendríticas do paciente e expondo-as à células
cancerígenas em grandes quantidades, o
processo de defesa passa a funcionar: as
células dendríticas digerem os invasores
e, quando reinjetadas na corrente sanguínea, mandam um sinal de identificação ativando as células T, a milícia de defesa do corpo. Resultados preliminares
em pacientes com câncer de próstata
avançado foram promissores: 36% permaneceram estáveis por seis meses. Testes em pacientes com câncer de ovário, cólon e mama estão em andamento.
Ameaça nanotecnológica - Criar máquinas com dimensões moleculares pode parecer ficção científica, mas não é. A idéia é ter exércitos de minirrobôs capazes de construir objetos variados -circuitos de computadores, carros, TVs, remédios e vacinas- em fábricas do tamanho de células, usando material (átomos
e moléculas) coletado do mundo natural,
como crianças fazem com blocos de Lego. Para gerar algo com dimensões humanas, os robôs teriam de se auto-reproduzir usando também matéria-prima
natural. Se algum entrar em pane e se auto-replicar sem parar, passando a informação defeituosa para a sua prole, bilhões de minirrobôs poderão devorar o
planeta em apenas alguns dias, um apocalipse nanotecnológico. A ameaça é um
tanto exagerada. Robôs podem ser criados com dispositivos de autodestruição,
caso não cumpram as suas funções. Como sempre, novas idéias geram promessas e medos.
Mente sobre matéria - Cientistas
construíram um dispositivo capaz de enviar mensagens do cérebro de macacos
para braços mecanizados. O dispositivo
capta a agitação elétrica produzida por
grupos específicos de neurônios, traduzindo-a em instruções legíveis pelo órgão robótico. Com isso, paralíticos poderão manipular objetos através de seu
pensamento. Claro, militares também
estão interessados: imagine um exército
de robôs controlados pela mente de apenas um humano. Mais promessas e medos, confirmando que a ciência é espelho do que temos de melhor e pior.
Marcelo Gleiser é professor de física teórica do
Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do
livro "O Fim da Terra e do Céu"
Texto Anterior: Astros na mira Próximo Texto: Ciência em Dia: A invasão das traças digitais Índice
|