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Lula estuda liberar plantio de cana na borda do Pantanal
Usineiros podem ganhar permissão para entrar na bacia do Alto Paraguai; ambientalistas temem contaminação de rios
Debate provoca adiamento no anúncio do zoneamento do setor sucroalcooleiro; área de 110 mil km2 pode ser aberta para nova plantação
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A pressão para liberar a expansão do cultivo de cana-de-açúcar na bacia do Alto Paraguai -uma área equivalente ao
território de Alagoas, no entorno do Pantanal mato-grossense- já provoca um novo adiamento de cinco meses no anúncio do zoneamento da cana, um
compromisso internacional assumido pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva na cruzada
em defesa do biocombustível.
A Folha apurou que a tendência no Planalto é permitir a
expansão da cana numa área de
110 mil quilômetros quadrados
na parte alta da bacia, na qual já
existem cinco usinas funcionando. Elas foram instaladas
até o início dos anos 1980, antes de uma resolução do Conama (Conselho Nacional do
Meio Ambiente) vetar novos
empreendimentos no local.
De acordo com estudos de
técnicos do governo, a bacia
dispõe de 56 mil quilômetros
quadrados aptos ao cultivo da
cana, apesar de abrigar também as nascentes dos rios que
deságuam no Pantanal.
Promessa em dúvida
A expansão da área já plantada -vinculada à ampliação ou
construção de usinas- é combatida por ambientalistas. Eles
afirmam que o lançamento acidental de vinhoto produzido
nas usinas de álcool nos rios
ameaça contaminar diretamente o Pantanal.
A proposta do zoneamento
(ou seja, do estabelecimento
dos lugares onde se poderá ou
não plantar cana) que excluía a
bacia do Alto Paraguai e o bioma Amazônia da área de expansão do cultivo foi entregue ao
presidente Lula no ano passado. Era fruto de um acordo entre os ministros Carlos Minc
(Meio Ambiente) e Reinhold
Stephanes (Agricultura).
O próprio Stephanes, no entanto, não considerava a decisão madura, apesar dos muitos
meses de negociações. Por isso,
Lula deixou de anunciar o zoneamento em novembro, durante a Conferência Internacional sobre Biocombustíveis,
realizada em São Paulo.
Uma nova rodada de debates
foi aberta. Nela, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ouviu
argumentos dos governadores
Blairo Maggi (MT) e André
Puccinelli (MS), ambos defensores da liberação.
Em 2007, Lula assumiu em
Bruxelas o compromisso de impedir a expansão da cana na floresta amazônica e sobre áreas
de produção de alimentos. O
zoneamento da cana, que formalizaria esse compromisso,
seria anunciado até julho do
ano passado. Mas, por ora, não
passa de discurso.
Autoimolação
Desde 1985, uma resolução
do Conama proíbe a instalação
de novas usinas na Bacia do Alto Paraguai, além das cinco que
já estavam na região.
Mas há pedidos de novas usinas tramitando tanto em Mato
Grosso quanto em Mato Grosso do Sul. Tentativas de suspender a proibição enfrentaram manifestações populares.
E, em 2005, o ambientalista
Francisco Anselmo Gomes de
Barros, o Franselmo, ateou fogo ao próprio corpo durante
um protesto no centro de Campo Grande e morreu. "Já que
não temos votos para salvar o
Pantanal, vamos dar a vida para
salvá-lo", escreveu o ambientalista na carta que deixou para
explicar sua atitude.
No bioma Amazônia, que se
estende por uma área de mais
de 4 milhões de quilômetros
quadrados que Lula insiste não
ser propícia ao cultivo da cana,
documento da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária) apontou o crescimento do cultivo nos Estados
do Acre, de Roraima e do Pará.
A proposta de zoneamento
levada ao Planalto, após debate
no governo, prevê que, independentemente da proibição
para a expansão da cana, as
atuais usinas terão o funcionamento garantido.
O governo trabalha com estimativas de crescimento da área
plantada de cana em cerca de 7
milhões de hectares na próxima década. Isso corresponde a
pouco mais do que a soma dos
territórios dos Estados de Sergipe e do Espírito Santo.
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