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BIOLOGIA
Federal de Viçosa participou de pesquisa alemã
Técnica de análise metabólica aperfeiçoa a genética de plantas
MARCUS VINICIUS MARINHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um grupo de cientistas alemães,
com a ajuda de um brasileiro, desenvolveu uma técnica para o estudo de compostos conhecidos
como metabólitos que pode trazer grandes mudanças para a biotecnologia. Ela possibilita a caracterização genética de organismos
em um nível inédito.
A análise dos metabólitos, substâncias que participam de reações
químicas dentro de um organismo qualquer, é essencial para entender como ele funciona, ou como pode ser modificado.
A técnica desenvolvida por
Marcelo Ehlers Loureiro, da Universidade Federal de Viçosa, e colegas do Instituto Max Planck, da
Alemanha, consiste na combinação de técnicas já conhecidas na
análise química com métodos estatísticos de estudo de variações.
A pesquisa do cientista e seus
colegas está publicada na edição
de hoje da revista da academia nacional de ciências norte-americana, a PNAS (www.pnas.org).
Pesquisando o metabolismo
(dinâmica de reações químicas
internas) da batata, os pesquisadores conseguiram, por exemplo,
dizer por que, mesmo quando se
"desligavam" determinados genes -procedimento conhecido
como "nocaute" na genética-, a
característica correspondente
àquele código genético não cessava necessariamente de existir.
"Quando se mexe em um gene
de um organismo, grande parte
das mudanças de características a
ele correspondentes não podem
ser detectadas. Isso acontece porque ele pode ser parte de uma rede com vários genes de qualidades parecidas", diz Loureiro.
O cientista, que pesquisa as redes metabólicas na síntese de sacarose (açúcar) em batatas, percebeu que, com a nova técnica que
desenvolveu, conseguia medir diferenças antes imperceptíveis nas
quantidades das substâncias
quando o gene envolvido era suprimido. Isso possibilitou a construção de um perfil genético mais
apurado para a planta, considerada um sistema-modelo para o estudo do amido e da fixação de gás
carbônico.
Loureiro diz acreditar que uma
das coisas mais importantes para
o estudo de qualquer organismo é
um "metaboloma", ou seja, um
perfil completo dos metabólitos
de um ser vivo. Perfil esse que pode ser desenhado com a nova técnica, que possibilita o estudo de
até 2.500 substâncias por vez.
"O conhecimento das rotas metabólicas é essencial para a análise
do organismo", afirma Loureiro.
"Mas ainda é muito pouco, considerando que cada organismo desses deve ter por volta de 100 mil
metabólitos."
O cientista diz que a técnica pode ser um grande avanço para a
biotecnologia. "Com essa visão
mais aprofundada do relacionamento entre os genes e os metabólitos, o processo de criação de
transgênicos, por exemplo, pode
ser mais refinado", diz.
"Você vai entender melhor o
que está acontecendo no organismo e terá também mais instrumentos para analisar e fiscalizar
os efeitos de sua fabricação", diz.
Para o cientista, a importância
do estudo dos metabóltos ainda
vai aumentar com o passar do
tempo. "Estamos vivendo uma
revolução científica e não estamos
nem tendo tempo de assimilar toda a informação sobre a natureza
que as novas técnicas podem produzir. Hoje há perfis de genes, de
proteínas, de tudo. Os metabolomas são mais uma dessas coisas
que terão suma importância no
futuro", afirma Loureiro.
Para facilitar o acesso da comunidade científica à nova técnica,
Loureiro diz que os programas de
computação responsáveis pela
parte estatística do procedimento
estarão disponíveis no site do Instituto Max Planck (www.mpimp-golm.mpg.de) já nesta semana.
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