São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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BIOLOGIA

Federal de Viçosa participou de pesquisa alemã

Técnica de análise metabólica aperfeiçoa a genética de plantas

MARCUS VINICIUS MARINHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um grupo de cientistas alemães, com a ajuda de um brasileiro, desenvolveu uma técnica para o estudo de compostos conhecidos como metabólitos que pode trazer grandes mudanças para a biotecnologia. Ela possibilita a caracterização genética de organismos em um nível inédito.
A análise dos metabólitos, substâncias que participam de reações químicas dentro de um organismo qualquer, é essencial para entender como ele funciona, ou como pode ser modificado.
A técnica desenvolvida por Marcelo Ehlers Loureiro, da Universidade Federal de Viçosa, e colegas do Instituto Max Planck, da Alemanha, consiste na combinação de técnicas já conhecidas na análise química com métodos estatísticos de estudo de variações.
A pesquisa do cientista e seus colegas está publicada na edição de hoje da revista da academia nacional de ciências norte-americana, a PNAS (www.pnas.org).
Pesquisando o metabolismo (dinâmica de reações químicas internas) da batata, os pesquisadores conseguiram, por exemplo, dizer por que, mesmo quando se "desligavam" determinados genes -procedimento conhecido como "nocaute" na genética-, a característica correspondente àquele código genético não cessava necessariamente de existir.
"Quando se mexe em um gene de um organismo, grande parte das mudanças de características a ele correspondentes não podem ser detectadas. Isso acontece porque ele pode ser parte de uma rede com vários genes de qualidades parecidas", diz Loureiro.
O cientista, que pesquisa as redes metabólicas na síntese de sacarose (açúcar) em batatas, percebeu que, com a nova técnica que desenvolveu, conseguia medir diferenças antes imperceptíveis nas quantidades das substâncias quando o gene envolvido era suprimido. Isso possibilitou a construção de um perfil genético mais apurado para a planta, considerada um sistema-modelo para o estudo do amido e da fixação de gás carbônico.
Loureiro diz acreditar que uma das coisas mais importantes para o estudo de qualquer organismo é um "metaboloma", ou seja, um perfil completo dos metabólitos de um ser vivo. Perfil esse que pode ser desenhado com a nova técnica, que possibilita o estudo de até 2.500 substâncias por vez.
"O conhecimento das rotas metabólicas é essencial para a análise do organismo", afirma Loureiro. "Mas ainda é muito pouco, considerando que cada organismo desses deve ter por volta de 100 mil metabólitos."
O cientista diz que a técnica pode ser um grande avanço para a biotecnologia. "Com essa visão mais aprofundada do relacionamento entre os genes e os metabólitos, o processo de criação de transgênicos, por exemplo, pode ser mais refinado", diz.
"Você vai entender melhor o que está acontecendo no organismo e terá também mais instrumentos para analisar e fiscalizar os efeitos de sua fabricação", diz.
Para o cientista, a importância do estudo dos metabóltos ainda vai aumentar com o passar do tempo. "Estamos vivendo uma revolução científica e não estamos nem tendo tempo de assimilar toda a informação sobre a natureza que as novas técnicas podem produzir. Hoje há perfis de genes, de proteínas, de tudo. Os metabolomas são mais uma dessas coisas que terão suma importância no futuro", afirma Loureiro.
Para facilitar o acesso da comunidade científica à nova técnica, Loureiro diz que os programas de computação responsáveis pela parte estatística do procedimento estarão disponíveis no site do Instituto Max Planck (www.mpimp-golm.mpg.de) já nesta semana.


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