|
Próximo Texto | Índice
GENÔMICA
Governo anuncia fim de seqüenciamento da planta, que detectou 32 mil genes; informação ajudará melhoramento
Brasil terá DNA do café em banco de dados
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil confirmou ontem que
ainda é o país do café. Em uma solenidade na sede da Embrapa
(Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária), o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) anunciou oficialmente a finalização do
primeiro seqüenciamento genético mundial do cafeeiro.
O trabalho envolveu Embrapa,
Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo)
e outras 20 instituições. Além do
genoma, foi anunciada a criação
de um banco de dados com 200
mil seqüências, a partir dos 32 mil
genes identificados.
Rodrigues fez questão de participar do anúncio e chegou a dizer
que o avanço permitirá ao país
desenvolver um "supercafé". O
Brasil é o maior exportador mundial do produto e o segundo
maior consumidor, atrás apenas
dos EUA. "O café já foi o carro-chefe da nossa economia. Agora
mostramos que o café brasileiro
continua na vanguarda", disse.
O seqüenciamento não traz
apenas status científico ao Brasil.
A partir do conhecimento do genoma, as plantas poderão ser melhoradas e adaptadas a diferentes
climas ou pragas, dando mais
qualidade e competitividade ao
café. Para os pesquisadores, será
possível alterar o sabor, o aroma e
até mesmo a quantidade de cafeína dos grãos.
Precisão
O melhoramento não significa
modificar geneticamente a planta. Para José Manuel Cabral Dias,
chefe da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, o genoma
traz inúmeras possibilidades de
cruzamento mesmo dentro da genética convencional. Um exemplo é a identificação dos genes que
são "ligados" durante florescimento da planta, que podem ser
usados para modificar sabor e dar
mais qualidade ao café.
Segundo Antônio de Pádua Nacif, gerente-geral da Embrapa Café, o melhoramento tradicional
feito hoje leva em torno de 25 a 30
anos. Com o genoma do café em
mãos, esse tempo cai para cerca
de dez anos. "O melhoramento
tradicional traz os genes que se
quer e os que não se quer. Com o
genoma, pinçaremos apenas
aqueles que queremos", disse.
O projeto, que custou R$ 6 milhões (R$ 1,9 milhão em recursos
diretos), não chegou a seqüenciar
por inteiro o DNA do café. Segundo Dias, a pesquisa identificou 32
mil genes da planta, de um total
de 40 mil ou 50 mil. Para ele, fazer
o seqüenciamento do genoma
completo seria um processo muito caro e pouco útil, já que muitos
genes são repetidos ou "silenciosos", isto é, não se manifestam.
"Os 32 mil [seqüenciados] são os
mais importantes e nos permitem
200 mil combinações", diz.
O banco de dados formado a
partir do seqüenciamento será gerenciado pela Embrapa e pela Fapesp, que deverão regulamentar o
acesso de instituições nacionais e
estrangeiras ao banco de dados. O
banco contém seqüências de
plantas das espécies Coffea arabica e Coffea robusta.
Segundo Rodrigues, não se descartam parcerias internacionais
na utilização dos dados, "desde
que as patentes sejam brasileiras".
Agricultura
O Brasil tem se especializado em
genomas agrícolas, como o da cana-de-açúcar e o da bactéria Xylella fastidiosa, que causa a doença
do amarelinho em laranjais.
Outros genomas em curso incluem banana, cacau, algodão,
eucalipto, arroz e trigo. O seqüenciamento da soja, considerado até
mais importante para o país em
termos comerciais que o do café,
depende ainda da formação de
um consórcio entre Brasil, Argentina, China e EUA. O genoma bovino, em fase mais adiantada, deverá ser o próximo anúncio da
Embrapa, mas pode levar ainda
dois anos para ser finalizado.
Próximo Texto: Astrofísica: Explosão cósmica tem versão mais branda Índice
|