São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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ASTROFÍSICA

Dados são de satélite

Explosão cósmica tem versão mais branda

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A mania do "diet" chegou ao espaço. Análises conduzidas por dois grupos de astrônomos a partir de dados coletados por satélite mostram que as mais poderosas explosões do Universo também estão no mercado em versões de baixo teor calórico -literalmente, com menos energia.
É mais um avanço numa das coqueluches da pesquisa astronômica, o estudo dos enigmáticos disparos de raios gama. Trata-se da forma mais energética de radiação existente no cosmo.
Sua descoberta ocorreu nos anos 1960, por acaso. Na Guerra Fria, russos e americanos haviam criado métodos para detectar com satélites raios gama provenientes de explosões de bombas nucleares. Acabaram não vendo nada relevante no chão, mas o espaço parecia salpicado deles.
Hoje, sabe-se que os disparos estão associados ao surgimento de supernovas -a morte violenta de estrelas maciças-, mas ninguém sabe ao certo como os raios surgem. Claro, há boas sugestões.
Uma das que mais entusiasmam é a de Remo Ruffini, da Universidade de Roma. Ele esteve no Brasil na semana passada, por ocasião da 11ª Escola Brasileira de Cosmologia e Gravitação, organizada pelo CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), no Rio.
Ruffini sugere que os raios gama sejam produzidos numa seqüência tríplice de eventos, em sistemas com duas estrelas. Primeiro, a maior delas implode e vira um buraco negro -astro tão compacto que dele nem a luz consegue fugir, tamanha a força gravitacional. Seu último suspiro antes de sumir seria em raios gama.
O disparo então atinge a estrela vizinha, que, com a energia extra, também colapsa. Por ser menor, não chega a virar buraco negro -explode como supernova e depois encolhe, virando um pulsar.
As análises do novo disparo de raios gama "diet" foram feitas por um grupo do Caltech, nos EUA, e outro da Academia Russa de Ciências, com base em dados do satélite russo-europeu Integral. É o segundo disparo do tipo já visto, com um milésimo da força dos convencionais. É também o mais próximo, a 1,6 bilhão de anos-luz.
Ruffini exultou ao ver que a curva de energia do novo disparo também segue suas previsões. Ainda no Brasil, ele começou a redigir um estudo que irá enviar à "Nature" (www.nature.com, a mesma que publicou os artigos do disparo "diet"), batizando a fonte do disparo de Urca-3.

Cassino
O nome tem história. Segundo Ruffini, parte do fenômeno envolve a perda de energia por uma estrela ao colapsar, processo denominado Urca pelo físico brasileiro Mário Schenberg (1914-1990) e seu colega russo-americano George Gamov (1904-1968), nos anos 1940. Gamov comparou a perda de energia à perda de dinheiro por sua mulher no antigo cassino da Urca, no Rio.


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