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ASTROFÍSICA
Dados são de satélite
Explosão cósmica tem versão mais branda
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A mania do "diet" chegou ao espaço. Análises conduzidas por
dois grupos de astrônomos a partir de dados coletados por satélite
mostram que as mais poderosas
explosões do Universo também
estão no mercado em versões de
baixo teor calórico -literalmente, com menos energia.
É mais um avanço numa das coqueluches da pesquisa astronômica, o estudo dos enigmáticos
disparos de raios gama. Trata-se
da forma mais energética de radiação existente no cosmo.
Sua descoberta ocorreu nos
anos 1960, por acaso. Na Guerra
Fria, russos e americanos haviam
criado métodos para detectar
com satélites raios gama provenientes de explosões de bombas
nucleares. Acabaram não vendo
nada relevante no chão, mas o espaço parecia salpicado deles.
Hoje, sabe-se que os disparos
estão associados ao surgimento
de supernovas -a morte violenta
de estrelas maciças-, mas ninguém sabe ao certo como os raios
surgem. Claro, há boas sugestões.
Uma das que mais entusiasmam é a de Remo Ruffini, da Universidade de Roma. Ele esteve no
Brasil na semana passada, por
ocasião da 11ª Escola Brasileira de
Cosmologia e Gravitação, organizada pelo CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), no Rio.
Ruffini sugere que os raios gama sejam produzidos numa seqüência tríplice de eventos, em
sistemas com duas estrelas. Primeiro, a maior delas implode e vira um buraco negro -astro tão
compacto que dele nem a luz consegue fugir, tamanha a força gravitacional. Seu último suspiro antes de sumir seria em raios gama.
O disparo então atinge a estrela
vizinha, que, com a energia extra,
também colapsa. Por ser menor,
não chega a virar buraco negro
-explode como supernova e depois encolhe, virando um pulsar.
As análises do novo disparo de
raios gama "diet" foram feitas por
um grupo do Caltech, nos EUA, e
outro da Academia Russa de
Ciências, com base em dados do
satélite russo-europeu Integral. É
o segundo disparo do tipo já visto,
com um milésimo da força dos
convencionais. É também o mais
próximo, a 1,6 bilhão de anos-luz.
Ruffini exultou ao ver que a curva de energia do novo disparo
também segue suas previsões.
Ainda no Brasil, ele começou a redigir um estudo que irá enviar à
"Nature" (www.nature.com, a
mesma que publicou os artigos
do disparo "diet"), batizando a
fonte do disparo de Urca-3.
Cassino
O nome tem história. Segundo
Ruffini, parte do fenômeno envolve a perda de energia por uma
estrela ao colapsar, processo denominado Urca pelo físico brasileiro Mário Schenberg (1914-1990) e seu colega russo-americano George Gamov (1904-1968),
nos anos 1940. Gamov comparou
a perda de energia à perda de dinheiro por sua mulher no antigo
cassino da Urca, no Rio.
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