São Paulo, sábado, 11 de setembro de 2004

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Brasileiro garimpa genoma em busca de terapias personalizadas

DA ENVIADA A FLORIANÓPOLIS

O oncologista brasileiro José Claudio Casali Rocha, 40, passou os últimos 18 meses no Hospital de Pesquisa Infantil St. Jude, nos EUA, tentando desvendar como drogas que combatem o câncer agem no DNA do paciente.
A pesquisa faz parte da chamada farmacogenética, linha que visa desenhar tratamentos específicos para cada pessoa, ou para grupos de pessoas, baseados na resposta genética do indivíduo.
A equipe de Rocha trabalhou com casos de leucemia linfoblástica aguda, forma mais comum de câncer infantil. A doença é causada pela proliferação excessiva de linfócitos (um tipo de célula do sistema de defesa) no sangue.
Cerca de 20% dos pacientes não respondem positivamente à quimioterapia. "A resposta [a isso] está no DNA", disse o pesquisador, durante o 50º Congresso Brasileiro de Genética. Leia a seguir a entrevista dada à Folha. (CA)
 

Folha - Como a farmacogenética pode ajudar a tratar o câncer?
José Claudio Casali Rocha -
Há hoje muito progresso no tratamento quimioterápico, nas técnicas cirúrgicas, nas combinações das drogas. Mas existe ainda uma fração de pacientes em que o impacto de tratamentos e drogas estagnou. Há cânceres, como de ovário e do sistema nervoso central, em que não houve melhora de prognóstico na última década.
A única maneira de progredir é conhecer a biologia do tumor, e esse esforço passa pela medicina genômica. Precisamos entender o que acontece dentro da célula cancerosa, o que leva uma pessoa a responder ao tratamento e outra não. Se as respostas são individuais, tem de haver alguma coisa da célula que as determine. E a resposta está no DNA.

No que consistiu o seu trabalho nos EUA?
Rocha -
Procuramos dentro do DNA alguns marcadores ["etiquetas" genéticas], que são peças importantes para o sucesso do tratamento. Essas peças determinam se um paciente vai ter uma resposta positiva ao tratamento ou se a doença vai voltar.
Um outro aspecto da farmacogenética é estudar como os marcadores vão degradar as medicações, que têm um grau de toxicidade. Porque existem efeitos graves do tratamento.

Folha - Os marcadores genéticos podem suplantar as pesquisas sobre a biologia do tumor na hora de determinar o melhor tratamento?
Rocha -
Existem os dois aspectos. Um lado pouco visto é o ambiente em que o tumor está localizado -que é o indivíduo. Não podemos desvincular o tumor da pessoa. Aí é que entra o trabalho [da farmacogenética], mostrando que as características herdadas dos pais influenciam a resposta.

Folha - Qual seria o efeito da farmacogenética nos sistemas de saúde, uma vez que separa os pacientes de acordo com seus genes?
Rocha -
Acho que essas informações serão incorporadas naturalmente. Houve muita discussão quando a genética celular surgiu, porque foram descobertos marcadores de predisposição, e hoje lida-se bem com esses dados.


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