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Foguete ucraniano custará R$ 1 bi ao Brasil
Para especialistas, falta de mercado pode fazer binacional de lançamento de satélites dar prejuízo por 20 anos
Estimativa inicial era de R$ 100 milhões; para ministro, há risco, mas iniciativa é estratégica no programa espacial
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A ALCÂNTARA
A empresa criada por Brasil e Ucrânia para lançar satélites da base de Alcântara deve custar ao país quase R$ 1
bilhão. O valor é dez vezes
maior do que o estimado inicialmente para o capital da
parte brasileira da empresa,
cerca de R$ 100 milhões.
Especialistas ouvidos pela
Folha têm apontado que,
com a escalada de custos e
com o tamanho limitado do
mercado de lançamentos comerciais de satélites, a empresa pode ficar deficitária
por até duas décadas.
Os custos incluem a construção do sítio de lançamento do foguete ucraniano
Cyclone-4 no CLA (Centro de
Lançamentos de Alcântara),
no Maranhão, orçado em R$
519 milhões.
Esse valor é o capital brasileiro da empresa. Um aporte de igual monta é esperado
da Ucrânia, país que enfrenta dificuldades financeiras
após a crise de 2008.
Além disso, há obras dentro e fora do CLA que servirão à binacional ACS (Alcântara Cyclone Space) e que
são de responsabilidade do
governo brasileiro.
Entre elas estão um porto
e uma estrada no valor de R$
180 milhões; construções
que servirão tanto ao CLA
quanto à ACS, de R$ 110 milhões; e obras dentro do próprio sítio do Cyclone de R$
145 milhões.
Segundo o diretor de Licenciamento da AEB (Agência Espacial Brasileira), Nilo
Andrade, a agência já pediu
crédito suplementar para essas ações, além do previsto
na proposta de Orçamento
da União para 2011.
ATIVO TÓXICO
Um ponto polêmico das
obras que o Brasil fará no sítio do Cyclone é a construção
de um depósito de combustível para o foguete ucraniano,
orçado em R$ 35 milhões.
Esse combustível, a hidrazina, é tóxico e não é usado
pelos foguetes brasileiros.
A responsabilidade de pagar pelo depósito era da ACS,
mas a empresa transferiu a
conta para o Brasil, com
anuência da AEB. A ACS, que
teve sua pedra fundamental
lançada anteontem pelo ministro Sergio Rezende (Ciência e Tecnologia), prevê iniciar as operações em 2012.
CONTRA O TEMPO
Será uma corrida contra o
tempo: as obras no sítio ainda não começaram, nem o foguete está pronto.
Abandonados pelos seus
parceiros russos na fase de
desenvolvimento, os ucranianos tiveram de refazer o
sistema de controle do Cyclone-4 com tecnologia própria.
Segundo o diretor ucraniano da empresa, Oleksandr
Serdyuk, o sistema novo já
foi testado com sucesso, mas
faltam US$ 70 milhões para
completar o foguete, que devem vir de bancos europeus.
"O problema agora não é o
lançador, é o sítio de lançamento", disse.
Mesmo iniciando as operações no prazo, não há clareza
ainda sobre que fatia do mercado a ACS abocanharia.
Rezende diz que a empresa
fará de quatro a cinco lançamentos por ano. O diretor
brasileiro da ACS, o ex-ministro Roberto Amaral, fala em
seis. Segundo ele, a empresa
começaria a dar retorno em
seis anos, cobrando até US$
50 milhões por lançamento.
Um ex-diretor da ACS,
João Luiz Azevedo, fez outra
conta na reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em julho.
Segundo ele, os custos
crescentes da empresa e o
mercado reduzido fariam
com que a ACS ficasse 28
anos deficitária. Outros partilham sua opinião.
A principal limitação é o
fato de que 40% dos satélites
do mundo são americanos.
Como o Brasil não tem um
acordo de salvaguardas tecnológicas com os EUA, a ACS
ficaria vedada a essa fatia.
"Tudo é arriscado", afirmou Rezende sobre montar
uma empresa mesmo sem
mercado garantido.
Ele considera que a ACS
vale o risco por ser estratégica. Ela daria a chance ao país
de ter um foguete próprio, já
que há uma promessa da
Ucrânia de repassar tecnologia do Cyclone ao país e o
VLS-1 não servirá para lançar
os satélites brasileiros.
O ministro afirmou que
pretende propor um novo
acordo com os EUA, só para a
área de satélites.
O jornalista CLAUDIO ANGELO viajou a
convite do MCT
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