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Expansão terá de retirar quilombolas, diz coronel
DO ENVIADO A ALCÂNTARA
O governo lançou ontem a
pedra fundamental do sítio
de lançamento do foguete
ucraniano Cyclone-4 na base
de Alcântara, já com um novo alvo em vista: a porção
nordeste da península que
forma o município, onde vivem 2.000 quilombolas.
A Aeronáutica e o MCT
pleiteiam uma área de 12.645
hectares para expandir o Programa Espacial Brasileiro.
Os quilombolas, que tiveram suas terras reconhecidas
pela Justiça mas ainda aguardam sua homologação, dizem que não vão ceder.
A resistência dos descendentes de escravos já fez com
que as atividades da ACS (Alcântara Cyclone Space) fossem confinadas ao CLA (Centro de Lançamento de Alcântara), da Aeronáutica.
Originalmente o sítio deveria ficar num local vizinho
à base, terra quilombola.
Mas os quilombolas não
acham que o conflito com as
atividades espaciais esteja
resolvido. "Vamos achar
quando nossas terras estiverem tituladas" diz Samuel
Araújo, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alcântara.
Três representantes de comunidades quilombolas ouviram ontem, ressabiados, o
diretor brasileiro da empresa, Roberto Amaral, criticando-os veladamente pelos
atrasos no programa.
"Não temos culpa se atrasou. Cada comunidades tem
direito de garantir seu próprio território", diz Araújo.
A próxima briga quilombola é com o próprio CLA,
que aguarda parecer da Advocacia Geral da União um
pedido de cessão de 12.645
hectares para o programa.
Segundo o coronel-aviador Ricardo Rangel, diretor
do CLA, a área é vital para
projetos como os foguetes da
família Cruzeiro do Sul, que
devem substituir o VLS (Veículo Lançador de Satélites).
Rangel diz que os requisitos de segurança, como um
raio de 10 km livres em volta
do sítio de lançamento, tornam necessária a expansão.
"Hoje nós temos reservados 8.731 hectares para o
CLA. Isso só permite o sítio
do VLS e o da ACS", afirma.
Não é o suficiente para foguetes maiores, capazes de
colocar em órbita satélites
geoestacionários, ou lançamentos em órbita polar, diz.
"Um lançamento polar teria de passar por cima da cabeça das comunidades. Se
perdermos o setor nordeste,
fica muito difícil fazer lançamento polar", continua.
Para ele, "é preciso decidir
entre o interesse de 2.000
pessoas que moram no setor
Nordeste versus 190 milhões
de brasileiros."
(CA)
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