São Paulo, sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

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Cúpula de Copenhague ignora segurança alimentar, diz FAO

DA ENVIADA A COPENHAGUE

O diretor-geral da FAO (agência da ONU para agricultura e alimentação) exortou ontem a conferência do clima em Copenhague a incluir a segurança alimentar na agenda. Para Jacques Diouf, isso produziria um círculo virtuoso de redução de emissões e preservação das atividades agrícolas.
A cada vez mais enxuta agenda da cúpula deixou praticamente de fora a questão da falta de comida, um dos temas mais caros no aquecimento global.
Dessa forma, seria possível "promover a adaptação que é crucial à segurança alimentar e fazer uma contribuição significativa em mitigação [dos gases-estufa]", disse ontem Diouf em evento paralelo à cúpula. O diretor-geral da FAO argumenta que isso é essencial, pois 14% das emissões de gás carbônico saem da agropecuária. Por ora, pouco países falam em mencioná-la na declaração final.
Fontes envolvidas no debate dizem que casar segurança alimentar, mudança climática e comércio deveria ser óbvio, mas pouco esforço tem sido feito até agora nessa direção. No máximo, têm-se observado investidas retóricas.
A própria FAO tem dificuldade para estimar o quanto seria necessário gastar com a mitigação por meio da agricultura no mundo e quanto poderia ser economizado com isso, ou quantas pessoas poderiam se beneficiar -a agência coloca em 1 bilhão o número de pessoas que passam fome.
Peter Holmgren, diretor para a divisão de ambiente, clima e bioenergia afirmou à Folha que está em debate uma extensão do mecanismo de Redd (redução de emissões por desmatamento e degradação florestal) para ações agrícolas.
Mas tudo é ainda incipiente, e, apesar de mecanismos financeiros para o Redd estarem já avançados, a agricultura é questão mais delicada -que adentra a agenda comercial e a questão dos subsídios dos países desenvolvidos, sobretudo dos EUA, a seus produtores.

Plantio ecológico
Um estudo lançado ontem pela agência da ONU propõe a adoção de medidas simples, como cobrir a terra entre períodos de plantio, para reduzir a emissão de gases-estufa.
A agência da ONU criou um programa estimado em US$ 60 milhões amparado em doações múltiplas a fim de promover a agricultura sustentável e de baixa emissão em países em desenvolvimento. A ideia é investir em treinamento, monitoramento, prestação de contas e verificação. Mas, por ora, apenas o governo da Finlândia ofereceu US$ 3,9 milhões para serem usados em 2010.
A economista ambiental Leslie Lipper, que já trabalhou no Brasil, diz que o país -sobretudo o Nordeste- seria o local ideal para colocar em campo as conclusões do estudo. "É uma nação que tem toda a expertise técnica, experiência na questão do Redd e ao mesmo tempo têm muita carência, sobretudo entre os pequenos agricultores", afirma a pesquisadora. (LC)


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