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Venter é cético quanto a geneterapia
DA ENVIADA ESPECIAL
Craig Venter, presidente da empresa de biotecnologia Celera,
concorrente do Projeto Genoma
Humano, foi recebido pela platéia
em Lyon na última sexta, durante
o Fórum Mundial sobre Ciências
da Vida, mais como um popstar
do que como um cientista. Recebeu pedidos de autógrafo e de fotos para arquivos pessoais.
Venter estava bem-humorado.
Um slide de sua apresentação
mostrava-o no anúncio da conclusão do genoma, feito em junho
de 2000 na Casa Branca, EUA.
"Esse sou eu, lançando minha
candidatura a Presidência, e este
que está aí atrás é meu vice (se referindo a Bill Clinton)", brincou.
Depois da palestra, Venter falou
à Folha sobre seu próximo passo,
o projeto de proteoma humano.
Folha - Em julho de 2000, o sr.
afirmou na Inglaterra que a Celera
iria iniciar a automatização do proteoma humano. Como está indo?
Craig Venter - Está indo bem, vamos ter novidades agora na próxima primavera.
Folha - Mas o que exatamente vocês estão fazendo?
Venter - Estamos testando um
novo espectrômetro de massa da
empresa Applied Biosystems.
Folha - O que ele tem de diferente dos outros?
Venter - É um novo TOF (espectrômetro de massa, aparelho que
consegue separar as proteínas de
acordo com a relação de massa e
carga).
Folha - Quais as proteínas que serão os primeiros alvos?
Venter - Bem, as que conseguirmos primeiro. Na verdade, devemos nos concentrar em proteínas
relacionadas a algumas doenças.
Folha - Quais delas: câncer, mal
de Alzheimer?
Venter - Câncer certamente será
uma delas. Recentemente o Steven Hoffman (que trabalhou com
vacinas de malária) se juntou a
nós e temos um projeto de fazer
algo com vacinas de DNA.
Folha - Em sua palestra no Fórum,
Francis Collins (diretor do Projeto
Genoma Humano) mostrou-se bastante otimista quanto ao futuro da
medicina numa era pós-genômica.
Ele mencionou que, em 30 anos,
poderemos contar com terapia genética, por exemplo.
Venter - Eu não acredito que seja
tão simples assim. Não acredito
que, apenas colocando um gene,
você será capaz de consertar pessoas. A complexidade do ser humano é muito maior do que poder ser controlado por um simples gene. Não acredito tanto assim num futuro para a terapia genética.
Folha - Um projeto como proteoma não é simples. Vocês buscarão
parcerias para desenvolvê-lo?
Venter - Olha, nós fizemos um
genoma sozinho. Também poderemos fazer um proteoma.
Folha - E quanto à possibilidade
de discriminação genética que possa vir a existir com os testes genéticos?
Venter - Isso é algo que tanto Collins como eu estamos lutando lado a lado. Nos EUA queremos
uma lei que proíba a possibilidade
desse tipo de coisa acontecer.
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