São Paulo, terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Índice

Brasileiros descrevem minipterodáctilo

Fóssil de réptil voador achado na China tem 25 cm de envergadura e pode ser menor espécie do grupo

Sérgio Moraes/Reuters
Cientistas exibem réplicas do fóssil do N.crypticus no Museu Nacional, no Rio


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Uma nova espécie de pterossauro -grupo de répteis voadores que conviveu com os dinossauros, entre 220 milhões e 65 milhões de anos atrás- foi apresentado ontem no Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Segundo pesquisadores, o Nemicolopterus crypticus é provavelmente a menor espécie de pterossauro já achada, com apenas 25 centímetros de uma ponta à outra da asa.
A descrição da nova espécie coube a dois paleontólogos brasileiros e a dois chineses. O fóssil foi descoberto em 2004 na Província de Liaoning, na China, em trabalho coordenado por Xiaolin Wang e Zhonghe Zhou, do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia de Pequim.
Os calcários de Liaoning contêm fósseis de preservação espetacular. Foi dessa localidade que saíram, por exemplo, os famosos dinossauros emplumados chineses.
Pela experiência do Brasil na descrição científica de pterossauros -a bacia do Araripe, no Nordeste, é uma das regiões do mundo que se destaca pela existência de fósseis, tendo produzido mais de uma dezena de espécies-, o estudo foi feito em parceria com os pesquisadores Alexander Kellner, do Museu Nacional, e Diógenes de Almeida Campos, do DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral). Kellner é um dos poucos especialistas no mundo em pterossauros.
O trabalho foi publicado na edição de hoje da revista "Proceedings of the National Academy of Sciences", da Academia Nacional de Ciências dos EUA (www.pnas.org).
No Brasil, o trabalho dos pesquisadores foi financiado pela Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) e pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). A maior parte dos recursos de todo o projeto, no entanto, veio de agências de fomento à pesquisa chinesas.

Pequeno notável
Segundo Kellner, a característica mais marcante da nova espécie é o tamanho. Seus 25 cm de envergadura contrastam com a maioria dos pterossauros já descritos. O Nemicolopterus crypticus tem um vigésimo do tamanho do pterossauro brasileiro Anhanguera piscator (cujo fóssil original foi contrabandeado para o Japão).
O contraste é ainda maior quando o bicho é comparado com o maior dos pterossauros, o Quetzalcoatlus -de estimados 14 m de envergadura.
"A constituição óssea do fóssil indica que era um espécime jovem. Mas, mesmo que ele dobrasse de tamanho na fase adulta, continuaria sendo a menor espécie de pterossauro já encontrada", diz Kellner. O menor fóssil de pterossauro já achado, de 18 cm envergadura, era de um recém-nascido.
A ausência de dentes e o fato de alguns ossos dos pés serem curvados -o que nunca havia sido registrado antes num pterossauro- indicam, para os pesquisadores, que a nova espécie descrita se alimentava de insetos -em vez de peixes- e que era adaptada para viver em florestas, nas copas de árvores.

Questão de origem
Com a descoberta, os pesquisadores propõem de que os grandes pterossauros seriam descendentes de pequenos animais, como o N. crypticus.
Kellner explicou que uma das maiores dificuldades no estudo de pterossauros é que, por serem animais voadores, seus fósseis são muito mais difíceis de serem encontrados.
"O que nos ajudou muito no caso do Nemicolopterus crypticus foi o fato de o fóssil encontrado na China estar praticamente completo", afirmou o pesquisador carioca.
O fóssil original continuará na China, mas uma réplica e uma reconstituição ficarão expostas no Museu Nacional.


Texto Anterior: Lula quer endurecer crédito na Amazônia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.