São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2008

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MEDICINA

Pfizer quer forçar periódico a divulgar dado confidencial

STEVE CONNOR
DO "INDEPENDENT"

Uma multinacional farmacêutica está tentando forçar uma revista médica a revelar informes confidenciais feitos por pareceristas anônimos do periódico. O caso pode solapar uma das bases do processo científico.
A Pfizer, fabricante do Viagra, está tentando por meio de uma petição judicial forçar o "New England Journal of Medicine" ("NEJM") a divulgar os nomes e comentários dos revisores anônimos que julgaram uma dúzia de estudos sobre antiinflamatórios fabricados pela empresa. A identidade dos revisores e seus pareceres são mantidos em segredo para que eles possam expressar suas opiniões livremente.
Um tribunal dos EUA deve decidir nesta semana se a empresa pode forçar o "NEJM" a divulgar as informações. Alguns cientistas dizem que isso afetaria o sistema da revisão por pares, que a ciência usa para avaliar o mérito de uma pesquisa antes da sua publicação.
A Pfizer, sediada em Nova York, está sendo processada por danos supostamente causados pelas drogas Celebrex e Bextra. Ambos são antiinflamatórios e pertencem à classe dos inibidores de Cox-2 -a mesma do Vioxx, que foi tirado do mercado em 2004 por temor de que tivesse causado milhares de ataques cardíacos e derrames. O Celebrex ainda está à venda.

Interesse público
A Pfizer está procurando informações adicionais que possam apoiar sua defesa. "Revistas científicas como o "NEJM" podem ter recebido manuscritos que contêm dados que tiram a culpa do Celebrex e do Bextra, o que seria relevante para a defesa da causa da Pfizer", afirma a empresa em sua petição.
Mas Donald Kennedy, editor da revista "Science", disse que isso equivale a abrir a temporada de caça. "Se essa moção for bem-sucedida, que revista não vai virar alvo de ataques do tipo?" -escreveu, em um editorial.
Segundo Kennedy, o que está em jogo neste caso é o interesse público em um sistema justo de avaliação e publicação de trabalhos científicos. A moção da Pfizer afirma que o público não tem interesse em proteger o processo editorial de uma publicação científica.


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