São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008 |
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Brasil quer "programa antártico latino"
Representantes de 7 países se reúnem no Rio para definir estratégias de pesquisa da América do Sul no continente gelado
CLAUDIO ANGELO EDITOR DE CIÊNCIA O governo Lula quer estender sua diplomacia Sul-Sul até o fim do mundo -literalmente. Capitaneados pelo Brasil, representantes de sete países se reúnem hoje no Rio para começar a definir uma estratégia comum sul-americana para a pesquisa na Antártida. Segundo o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, a idéia do encontro é "dimensionar as necessidades" dos cientistas da América do Sul de forma a organizar um programa científico multilateral no continente gelado. Trocando em miúdos, o que se espera é que as nações sul-americanas que têm programas antárticos (Brasil, Argentina, Chile, Peru, Uruguai, Venezuela e Equador) possam juntar suas misérias e fazer ciência de ponta na Antártida. Em tempos de aquecimento global, o lugar é cada vez mais estratégico para a pesquisa. Das interações entre o manto de gelo antártico e o oceano Austral dependem o clima da Terra em geral e o da América do Sul em particular. O inverno brasileiro, por exemplo, é regido por massas de ar que se originam no lado sudoeste da península Antártica. E a península é uma das regiões do planeta que mais esquentaram no último século. Os países da América do Sul têm capacidades diferenciadas de operar na Antártida. Chile e Argentina têm presença forte na região, com diversas bases, navios quebra-gelo e uma infra-estrutura montada para apoiar suas reivindicações territoriais no continente. O Brasil, por outro lado, tem uma logística reduzida, mas conta com uma atividade científica mais bem estruturada e financiada. Pelo menos em relação à maioria de seus vizinhos, já que a pesquisa antártica tem tido orçamento pífio: a Folha mostrou, em 2007, que em 23 anos de programa antártico o país gastou apenas R$ 25 milhões em ciência, pouco mais do que consumiu o passeio espacial do astronauta Marcos Pontes, em 2006. "Podemos usar bases de outros países e compartilhar recursos técnicos e financeiros", exemplificou Rezende. Sem "plata" Esse tipo de parceria é um desejo antigo dos cientistas brasileiros, que nunca encontrou respaldo no governo. "Já tentamos fazer isso, mas é complicado trabalhar com os "hermanos'", disse Tânia Brito, coordenadora do Grupo de Avaliação Ambiental do Proantar (Programa Antártico Brasileiro). Os países sul-americanos têm problemas financeiros diversos, o que torna difícil um programa continuado. Segundo Sergio Rezende, a proposta de cooperação internacional é fruto da visita de Lula à Antártida em fevereiro. "Na ocasião, o presidente falou duas coisas: que nós temos de pedir dinheiro [ao governo] e que o Brasil tem de trabalhar em conjunto com outros países da América Latina. Não podemos fazer como certos países que fazem tudo sozinhos." Outro resultado da visita de Lula foi a compra, já fechada pela Marinha, de um novo navio para o Proantar. O Brasil conta hoje apenas com o Napoc (Navio de Apoio Oceanográfico) Ary Rongel, que não tem nenhuma estrutura de pesquisa. Essa carência deverá ser suprida com o Ocean Empress, fabricado na Noruega e adquirido por R$ 71,5 milhões. O navio, que deve ser entregue ao Brasil ainda neste ano (e rebatizado), terá três laboratórios e um hangar para dois helicópteros. "O Brasil vai ficar com dois navios para a Antártida", disse Rezende. Pelo menos por enquanto, já que o Ary Rongel sai de operação em 2016. O ministro prometeu ainda que a pesquisa antártica nacional vai sair do sufoco financeiro. Embora os R$ 9 milhões dados a 11 projetos de pesquisa para o Ano Polar Internacional não tenham sido incorporados ao orçamento do Proantar, Rezende afirmou que, com a regulamentação da lei do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), em 2007, "ficamos numa situação muito confortável". Próximo Texto: Mutação fez tomate doméstico ficar grande, diz grupo americano Índice |
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