São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004

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PALEOBIOLOGIA

Dinossauro carnívoro ganhava a maioria de suas 6 toneladas em crescimento acelerado dos 15 aos 18 anos

T. rex virava um gigante na adolescência

Divulgação "Nature"/Field Museum
Focinho de Sue, maior espécime de tiranossauro já descoberto


CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

A adolescência é um período de mudanças rápidas, no qual crianças pequenas se transformam em brutamontes sangüinários. Pelo menos foi assim no caso do Tyrannosaurus rex, o monstro mais famoso da pré-história. Um novo estudo revela que o segredo do gigantismo desse dinossauro de até 6 toneladas era uma espichada radical dos 15 aos 18 anos.
Radical, aqui, não é só força de expressão: a pesquisa, feita por um grupo de paleobiólogos norte-americanos, mostra que um T. rex adolescente ganhava até 2,1 quilos por dia durante esses quatro anos. Para comparação, seres humanos no pico de crescimento ganham 7,7 gramas por dia.
"Faça as contas. Eles cresciam 270 vezes mais rápido que os humanos", diz Greg Erickson, especialista em tiranossauros da Universidade do Estado da Flórida, nos EUA. Ele é o principal autor do estudo, que sai hoje na capa do periódico científico "Nature" (www.nature.com).
Segundo Erickson e seus colegas, a aceleração do crescimento na adolescência foi a solução evolutiva encontrada pelos tiranossauros para reinar no posto de um dos maiores predadores que já andaram sobre a Terra, com mais de 6 metros de comprimento do focinho à ponta da cauda.
As vantagens de ser uma montanha de carne para um predador são várias. Além de facilitar a caça, um volume corporal grande faz o animal perder calor mais devagar, algo importante quando se supõe que o T. rex talvez fosse um bicho de sangue frio.
O preço a pagar por isso era uma espécie de "síndrome de James Dean": viva rápido, morra jovem. Após estabilizar o crescimento, por volta dos 18 anos, o dinossauro gozava uma breve década de vida adulta e morria aos 28.
Estudos de dinâmica de crescimento de animais extintos há milhões de anos (65 milhões, no caso do T. rex) como esse são uma moda recente na paleontologia. Eles esclarecem não só detalhes do comportamento dos animais, como também sua história evolutiva. Trabalhos anteriores do próprio Erickson e de seu orientador de mestrado, Jack Horner, indicam que os dinos têm um padrão de crescimento mais próximo do das aves que do de outros répteis -um ponto a favor da hipótese de que as últimas são herdeiras dos primeiros. "Lagartos adiam a maturidade, e as aves crescem depressa", disse Erickson à Folha.
Para determinar o padrão de crescimento do T. rex, o cientista americano usou uma técnica que deixa muitos curadores de museu arrepiados: cortou fósseis de sete espécimes (só há 30 no mundo) para examinar os anéis de crescimento que se depositam anualmente nos ossos, como em árvores. Um dos animais serrados não foi ninguém menos que Sue, o esqueleto de tiranossauro mais completo do mundo, em exibição num museu de Chicago (EUA).
"Visitei o museu há três anos e notei que havia costelas e outros ossos que poderiam ser analisados", diz Erickson. E se justifica: "Eles nunca seriam expostos."


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