São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004

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BIOTECNOLOGIA

Permissão foi dada à Universidade de Newcastle, que pretende estudar células-tronco

Reino Unido dá sua 1ª licença para clonagem

DA REDAÇÃO

O Reino Unido concedeu ontem a primeira licença para um centro de pesquisa britânico clonar embriões com fins terapêuticos. A permissão foi dada pela Autoridade em Fertilização e Embriologia Humana (HFEA, na sigla em inglês) à Universidade de Newcastle, no centro do país, e dura inicialmente um ano.
A universidade espera transformar células-tronco embrionárias em células produtoras de insulina, que seriam transplantadas para pâncreas de diabéticos. O cientista Miodrag Stojkovic, da equipe de Newcastle, disse que são necessários pelo menos cinco anos para que os testes clínicos comecem.
"A licença [concedida pela HFEA] tem duas vantagens: os pesquisadores podem trabalhar com células pluripotentes e usar o código genético do próprio paciente, o que reduz a chance de rejeição durante o tratamento", explica a pesquisadora Rosalia Mendez Otero, que trabalha com células-tronco na UFRJ.
Células pluripotentes têm o potencial de formar qualquer tipo de tecido no organismo e ocorrem em abundância nos embriões. Essa capacidade está aparentemente esmorecida em células-tronco retiradas do cordão umbilical, da medula óssea ou do sangue.

Cabo-de-guerra
O anúncio provocou a reação de grupos contrários à clonagem humana. "É cientificamente irresponsável fazer o trabalho de base para aqueles que desejam clonar bebês em outros países", afirmou David King, do grupo Human Genetics Alert, com sede em Londres. No Vaticano, o papa João Paulo 2º condenou a licença concedida pela HFEA.
Em 2001, o Reino Unido foi o primeiro país do mundo a permitir a clonagem terapêutica -a reprodutiva, que visa formar uma nova pessoa, permanece proibida. Desde então, os britânicos utilizam embriões descartados por clínicas de fertilização e material depositado em um banco nacional de células-tronco.
A legislação no país exige a destruição do embrião em até 14 dias e proíbe sua implantação no útero. Nesse estágio de desenvolvimento, o embrião é chamado de blastocisto, um amontoado esférico com cerca de cem células.
Em fevereiro, cientistas da Coréia do Sul anunciaram pela primeira vez a retirada bem-sucedida de células-tronco de um embrião clonado. A técnica usada por eles, a transferência nuclear, é a mesma que será aplicada pela equipe de Newcastle e foi usada para fabricar a ovelha Dolly.
O método consiste em retirar o núcleo de uma célula adulta, obtida na pele do paciente, por exemplo. Esse núcleo carrega o código genético do doador. Ele é implantado em um óvulo, que é artificialmente estimulado a se dividir como se estivesse fertilizado.
Os Estados Unidos estão no outro lado da corda. O presidente George W. Bush é um dos mais obstinados críticos à clonagem de embriões humanos e sua administração veta o financiamento público a esse tipo de pesquisa.
Nas Nações Unidas, os Estados Unidos apóiam uma proposta que proíbe ambas as formas de clonagem. O tema deverá ser discutido na próxima Assembléia Geral da instituição, que acontece em setembro próximo.
No Brasil, o projeto da Lei de Biossegurança, que regulamenta a pesquisa com células-tronco embrionárias, tramita no Senado. Se aprovado, permitirá o manuseio de embriões descartados por clínicas de fertilização, mas proibirá a clonagem tanto terapêutica quanto reprodutiva.


Com agências internacionais e "The Independent"


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