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MEDICINA
Grupo de cientistas responsável pela descoberta diz que pode estar se aproximando de uma cura para a Aids
Droga combate HIV
"escondido" no corpo
JEREMY LAURANCE
DO "INDEPENDENT"
Cientistas anunciaram ontem
que podem estar se aproximando
de uma cura para a Aids, a pior
doença infecciosa dos tempos
modernos, que já tirou 25 milhões
de vidas. Ainda assim, os envolvidos no avanço alertam que pode
levar muitos anos para chegar lá, e
que por enquanto a prevenção
continua sendo a forma mais importante de combate à moléstia.
A Aids é singular entre as doenças infecciosas porque, mesmo
após tratamento com um coquetel de drogas poderosas, vírus "latentes" permanecem no DNA e
voltam a atacar assim que o tratamento é interrompido.
Cientistas nos EUA mostraram
que, com a combinação de uma
droga barata chamada ácido valpróico com o coquetel já existente, o nível de HIV latente caiu dramaticamente. Os cientistas agora
acreditam que podem ser capazes
de eliminar o HIV latente de todo.
David Margolis, que liderou o
grupo de pesquisa na Universidade da Carolina do Norte, disse ontem: "Nossas descobertas sugerem que a erradicação de uma infecção estabelecida pelo HIV pode ser atingida com uma estratégia de estágios". "Essa descoberta,
embora não seja definitiva, sugere
que novas estratégias irão permitir a cura para o HIV no futuro."
E complementou: "Mas eu não
espero que aconteça logo. Enquanto isso, a prevenção tem de
ser a mensagem-chave".
A equipe americana descreve
sua pesquisa como uma "prova
de conceito" que envolveu o teste
com quatro pacientes que já estavam sendo tratados havia tempos
com o coquetel tradicional.
Se a erradicação do vírus puder
ser atingida, isso significa que os
pacientes de Aids poderiam parar
de tomar os remédios e deixariam
de transmitir a doença.
O avanço, publicado no periódico médico britânico "The Lancet", criou controvérsia imediata,
com alguns cientistas elogiando-o
como um salto enquanto outros
alertavam contra a "conversa da
cura". Jean-Pierre Routy, da Universidade McGill, no Canadá, diz
num comentário publicado no
"Lancet" que a descoberta "merece mais estudos urgentes".
Segundo o virologista Paolo Zanotto, da USP, a descoberta é potencialmente importante. "Caso o
potencial do ávido valpróico de
"desentocar" o HIV seja comprovado, isso promete."
Mas Abraham Karpas, a primeira pessoa a isolar o HIV no Reino
Unido, da Universidade de Cambridge, disse: "É uma baboseira
completa. Eles não entendem a
biologia do vírus. Vamos curar
todos os cânceres antes que encontremos uma cura para o HIV."
O vírus ativo é destruído pelo
coquetel de drogas, que hoje é o
tratamento padrão para HIV.
Mas o vírus latente permanece escondido e os cientistas achavam
que era impossível matar seletivamente as células infectadas ou expulsar o vírus escondido nelas.
A equipe da Universidade da
Carolina do Norte intensificou o
efeito do coquetel com uma droga
extra, então deu aos pacientes ácido valpróico, usado para tratar
epilepsia desde os anos 1960, duas
vezes ao dia, por três meses. Em
três dos pacientes houve uma redução de 75% na infecção por
HIV latente e uma redução similar, mas menor, no quarto doente.
O ácido valpróico é um regulador gênico cujo mecanismo de
ação é ainda misterioso, mas os
cientistas acreditam que com tratamento mais longo e agentes similares, a erradicação completa
do vírus talvez seja possível.
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