São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

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MEDICINA

Grupo de cientistas responsável pela descoberta diz que pode estar se aproximando de uma cura para a Aids

Droga combate HIV "escondido" no corpo

JEREMY LAURANCE
DO "INDEPENDENT"

Cientistas anunciaram ontem que podem estar se aproximando de uma cura para a Aids, a pior doença infecciosa dos tempos modernos, que já tirou 25 milhões de vidas. Ainda assim, os envolvidos no avanço alertam que pode levar muitos anos para chegar lá, e que por enquanto a prevenção continua sendo a forma mais importante de combate à moléstia.
A Aids é singular entre as doenças infecciosas porque, mesmo após tratamento com um coquetel de drogas poderosas, vírus "latentes" permanecem no DNA e voltam a atacar assim que o tratamento é interrompido.
Cientistas nos EUA mostraram que, com a combinação de uma droga barata chamada ácido valpróico com o coquetel já existente, o nível de HIV latente caiu dramaticamente. Os cientistas agora acreditam que podem ser capazes de eliminar o HIV latente de todo.
David Margolis, que liderou o grupo de pesquisa na Universidade da Carolina do Norte, disse ontem: "Nossas descobertas sugerem que a erradicação de uma infecção estabelecida pelo HIV pode ser atingida com uma estratégia de estágios". "Essa descoberta, embora não seja definitiva, sugere que novas estratégias irão permitir a cura para o HIV no futuro."
E complementou: "Mas eu não espero que aconteça logo. Enquanto isso, a prevenção tem de ser a mensagem-chave".
A equipe americana descreve sua pesquisa como uma "prova de conceito" que envolveu o teste com quatro pacientes que já estavam sendo tratados havia tempos com o coquetel tradicional.
Se a erradicação do vírus puder ser atingida, isso significa que os pacientes de Aids poderiam parar de tomar os remédios e deixariam de transmitir a doença.
O avanço, publicado no periódico médico britânico "The Lancet", criou controvérsia imediata, com alguns cientistas elogiando-o como um salto enquanto outros alertavam contra a "conversa da cura". Jean-Pierre Routy, da Universidade McGill, no Canadá, diz num comentário publicado no "Lancet" que a descoberta "merece mais estudos urgentes".
Segundo o virologista Paolo Zanotto, da USP, a descoberta é potencialmente importante. "Caso o potencial do ávido valpróico de "desentocar" o HIV seja comprovado, isso promete."
Mas Abraham Karpas, a primeira pessoa a isolar o HIV no Reino Unido, da Universidade de Cambridge, disse: "É uma baboseira completa. Eles não entendem a biologia do vírus. Vamos curar todos os cânceres antes que encontremos uma cura para o HIV."
O vírus ativo é destruído pelo coquetel de drogas, que hoje é o tratamento padrão para HIV. Mas o vírus latente permanece escondido e os cientistas achavam que era impossível matar seletivamente as células infectadas ou expulsar o vírus escondido nelas.
A equipe da Universidade da Carolina do Norte intensificou o efeito do coquetel com uma droga extra, então deu aos pacientes ácido valpróico, usado para tratar epilepsia desde os anos 1960, duas vezes ao dia, por três meses. Em três dos pacientes houve uma redução de 75% na infecção por HIV latente e uma redução similar, mas menor, no quarto doente.
O ácido valpróico é um regulador gênico cujo mecanismo de ação é ainda misterioso, mas os cientistas acreditam que com tratamento mais longo e agentes similares, a erradicação completa do vírus talvez seja possível.


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