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Físico pede boicote à Dell após veto a "eixo do mal"
Empresa exigiu que cientista do RJ se comprometesse a não produzir arma nuclear
Termo de compromisso
proibia universidade federal
de transferir computadores
da empresa a cidadãos de
Cuba e Irã, entre outros
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Um grupo de físicos brasileiros está pedindo que acadêmicos no país inteiro boicotem a
Dell, a segunda maior fabricante de computadores do mundo.
O pedido, que circula na internet, foi feito depois que a
empresa exigiu que um pesquisador assinasse um termo, ao
comprar máquinas da empresa,
no qual se comprometia a não
usá-las "na produção de armas
de destruição em massa" e não
transferir os equipamentos a
cidadãos de Cuba, Irã, Coréia
do Norte, Sudão e Síria.
O termo de compromisso,
conhecido como "Export Compliance", foi mandado em 31 de
agosto ao físico nuclear Paulo
Gomes, da Universidade Federal Fluminense, que havia comprado dois computadores Dell
para seu laboratório. Segundo a
empresa, ele deveria ser assinado antes da entrega das máquinas e impresso em papel timbrado da universidade.
Uma das cláusulas do termo
determina: "Não transferiremos, exportaremos, ou reexportaremos, direta ou indiretamente, quaisquer produtos adquiridos da Dell para: Cuba, Irã,
Coréia do Norte, Sudão, e/ou
Síria, ou a qualquer estrangeiro
com dupla nacionalidade, ou a
qualquer outro país sujeito a
restrições sob leis e regulamentos aplicáveis onde não estejamos situados, sob o controle de
um indivíduo natural ou residente deste país".
Outro termo: "Não utilizaremos os produtos em qualquer
atividade relacionada ao desenvolvimento, produção, uso, ou
manutenção de "Armas de Destruição em Massa", incluindo
(...) usos relacionados ao desenvolvimento míssil, nuclear, e/
ou químico/biológico (...) Se estivermos engajados nestas atividades, estamos cientes de que
estaremos sujeitos aos regulamentos de Licença de Exportação dos Estados Unidos".
Segundo Gomes, a exigência
foi feita depois que ele se identificou como físico ao fazer o
pedido de compra. "A vendedora me informou que as ligações
foram gravadas, então, como
era para um instituto de física,
eu precisava assinar", contou.
Revoltado, o físico disse que
não assinaria. "Eu não tenho de
prestar satisfação a ninguém,
nem sou obrigado a seguir as
políticas americanas. Sou comprador, não estou recebendo
doação. Além do mais, tenho
interação com físicos cubanos,
da qual não vou abrir mão."
Àquela altura, as máquinas já
haviam sido entregues. Gomes
disse que devolveria os computadores, desde que a Dell devolvesse todo o dinheiro e mandasse uma carta ao Instituto de
Física da UFF, para ser encaminhada ao CNPq -de onde saiu
a verba para a compra-, justificando a restrição.
A nota da empresa, encaminhada à Folha por sua assessoria de imprensa, afirma que a
Dell, como empresa americana, deve seguir as leis e regulamentos de exportação dos EUA
"Caso deixemos de cumprir
essas exigências da legislação
americana, a nossa empresa-mãe no exterior (Dell, Inc.) poderá ser severamente penalizada pelas autoridades dos EUA.
Em última análise (...) poderá
ser impedida de exportar."
O caso foi relatado à SBF (Sociedade Brasileira de Física), ao
ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, e a membros do Conselho Consultivo
do CNPq, e já circula pela internet entre os físicos desde o
feriado. "Há mais de 50 e-mails
pedindo o boicote à Dell", diz.
Segundo Gomes, a SBF vai sugerir a seus associados que não
comprem computadores da
marca. Procurado pela Folha,
o vice-presidente da entidade,
Paulo Murilo Oliveira, não quis
revelar sua posição oficial.
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