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Sonda passa de raspão por lua de Saturno para estudar gêiseres
Cassini chegou ontem a apenas 50 quilômetros da superfície de Encélado
DA REDAÇÃO
A sonda Cassini passa bem
após o sobrevôo mais próximo
já feito de uma lua: na tarde de
ontem, ela esteve a apenas 52
quilômetros da superfície de
Encélado, o satélite mais temperamental de Saturno.
O objetivo da aproximação
foi justamente observar de perto o mau humor desse astro.
Ele se manifesta na forma de jatos de gás e gelo que saem do
pólo Sul de Encélado e se estendem por mais de 700 quilômetros espaço afora.
Os chamados gêiseres de Encélado têm sido um mistério
para os cientistas desde que foram detectados pela primeira
vez, há dois anos e meio. Eles
são um sinal de que aquela lua
está geologicamente ativa, cuspindo parte do material que
forma um dos anéis de Saturno.
Só que, segundo as teorias
correntes de formação de planetas, Encélado não deveria ter
atividade nenhuma. "Seu diâmetro é um pouco maior que a
distância do Rio a São Paulo",
conta a vulcanóloga Rosaly Lopes, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (agência espacial dos EUA).
Com esse tamanho, mesmo
que tivesse um núcleo radioativo, essa radiação já teria se dissipado há muito tempo, deixando o interior da lua tão frio
quanto sua superfície.
Algo mantém o interior suficientemente quente para produzir essa atividade, diz Lopes.
Para tentar entender melhor
o que acontece dentro da lua,
cientistas da Nasa e da ESA
(agência espacial européia) tomaram uma decisão radical:
voar com a Cassini literalmente
dentro da pluma de partículas e
gás expelida por Encélado.
Com isso, instrumentos a
bordo da sonda poderiam captar diretamente os respingos e
analisar sua composição. Assim
seria possível ter pistas da origem da atividade na lua.
O problema é que há risco
nesse tipo de mergulho. "À velocidade que a Cassini viaja,
partículas de um milímetro de
diâmetro poderiam causar danos sérios à espaçonave", escreveu John Spencer, outro
cientista da missão.
Cálculos feitos pelos cientistas indicavam que o risco era
relativamente baixo. Mesmo
assim, os responsáveis pela
Cassini resolveram apenas
"molhar os pés" no jato gelado:
a entrada na pluma ocorreu à
altitude de 200 km.
"Parece que tudo deu certo
com o sobrevôo", disse Lopes à
Folha. Os primeiros resultados
científicos, no entanto, só saem
na semana que vem.
(CLAUDIO ANGELO)
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