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BIOÉTICA
Igreja forma opinião, mas a ciência não, diz pesquisadora
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A partir do século 18, a
ciência, por um lado, ganhou
mais autonomia. Porém, de
outro, ela fugiu da religião e
das massas. Esse vácuo, segundo a teóloga e escritora
Ivone Gebara, ajuda a explicar um pouco desse embate
mais atual travado entre
ciência e religião. Vide o caso
das células-tronco no STF
(Supremo Tribunal Federal).
"A religião, entretanto, vai
para perto das massas, distante da ciência, a igreja torna-se formadora de opinião",
afirmou Gerbara, em debate
realizado na segunda-feira à
noite, na Faculdade de Saúde
Pública de São Paulo. O
evento foi organizado pela
ONG Católicas pelo Direito
de Decidir.
O grupo, como o próprio
nome diz, defende inclusive
que a mulher tenha o direito
de optar pelo aborto. A posição oficial da instituição
também é favorável às pesquisas com células-tronco
embrionárias humanas.
Um caminho aberto para
que esse confronto possa ser
resolvido, segundo Gebara,
passa pela ocupação de espaços por parte da ciência.
"Nós precisamos ter um
ganho incremental de conhecimentos educativos, filosóficos e alternativos",
afirma a teóloga. Dessa forma, segundo ela, a visão até
certo ponto ainda medieval
da Igreja Católica poderá ter
menos peso no futuro.
O teólogo da PUC/SP,
Eduardo Cruz, discorda de
que a visão da Igreja Católica, seja sobre o aborto seja
sobre o uso de células-tronco, esteja desprovida de lógica. "Meu ponto de vista é baseado em razões acadêmicas.
A posição da Igreja é do século 19, quando havia o microscópio, quando se estudava o
embrião. Daí surge a idéia da
vida desde a concepção", explica o professor de Teologia
e Ciências da Religião.
A própria ciência foi quem
ofereceu subsídios para essa
lógica interna da Igreja, explica Cruz. "A ciência não deve ser confrontada com a religião, mas sim com a teologia. A primeira relação equivale a comparar frutas com
legumes", diz.
A ONG patrocinou uma
pesquisa, feita pelo Ibope,
que mostrou que 95% das
2.002 pessoas entrevistadas
aceitavam o uso de células-tronco embrionárias.
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