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FÍSICA
Cientista cria nova molécula unindo matéria e antimatéria
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Parece ficção, mas foi descrito na revista científica
"Nature": dois físicos conseguiram pela primeira vez
produzir moléculas de positrônio, juntando matéria -o
elétron, partícula de carga
negativa- e antimatéria - o
pósitron, partícula com a
mesma massa do elétron,
mas com carga elétrica de sinal contrário (positiva).
A descoberta abre caminho para a produção de um
"laser de raios gama de aniquilação", escreveram David
Cassidy e A. P. Mills Jr, da
Universidade da Califórnia
em Riverside, EUA.
O Universo é dominado
por matéria -átomos feitos
de partículas como prótons e
elétrons. Para cada tipo de
partícula de matéria existe
uma correspondente de antimatéria. A antimatéria é rara
e desaparece rapidamente,
mas de produção rotineira
em laboratórios e hospitais
-uma técnica de imageamento do corpo usa a chamada "PET", tomografia por
emissão de pósitrons.
Quando uma partícula de
matéria e uma de antimatéria se combinam, elas se aniquilam e produzem uma
grande quantidade de energia, como raios gama.
"Assim como o elétron e o
próton se juntam para formar o hidrogênio atômico
(H), um elétron e um pósitron se juntam, ainda que
por curta duração, para formar um átomo de positrônio
(Ps). Sua existência foi prevista em 1946 pelo físico teórico John Wheeler, e o átomo
foi isolado experimentalmente por Martin Deutsch
em 1951", comentou o físico
Clifford Surko, da mesma
universidade em San Diego.
Wheeler também previu a
possibilidade de existir uma
molécula de positrônio -Ps2
(assim como o hidrogênio
molecular é o H2).
Cassidy e Mills conseguiram agora produzir experimentalmente essa molécula,
Ps2, ou di-positrônio.
Para isso eles bombardearam um fino filme de sílica
com feixes de 20 milhões de
pósitrons. O disparo de antimatéria foi rapidíssimo e
concentrado em um ponto.
"Os pósitrons se difundem
pelos espaços vazios da sílica, onde capturam elétrons
para formar átomos de positrônio. Antes que esses átomos possam se aniquilar,
eles formam cerca de 100 mil
moléculas de Ps2 nas superfícies interiores dos vazios",
explica Surko.
Os autores esperam usar
técnicas semelhantes e fontes mais intensas de pósitrons para aumentar a densidade do positrônio e atingir
o estado da matéria conhecido como condensado Bose-Einstein. A partir disso seria
possível produzir um laser
com os raios gama obtidos
do processo de aniquilação.
Mas não estão nos planos
usar esse laser em naves espaciais. "Por causa da sua alta energia, esses fótons têm
um comprimento de onda
muito curto, e poderiam ser
usados para sondar objetos
pequenos como os núcleos
atômicos", diz Surko.
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