São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2007

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FÍSICA

Cientista cria nova molécula unindo matéria e antimatéria

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Parece ficção, mas foi descrito na revista científica "Nature": dois físicos conseguiram pela primeira vez produzir moléculas de positrônio, juntando matéria -o elétron, partícula de carga negativa- e antimatéria - o pósitron, partícula com a mesma massa do elétron, mas com carga elétrica de sinal contrário (positiva).
A descoberta abre caminho para a produção de um "laser de raios gama de aniquilação", escreveram David Cassidy e A. P. Mills Jr, da Universidade da Califórnia em Riverside, EUA.
O Universo é dominado por matéria -átomos feitos de partículas como prótons e elétrons. Para cada tipo de partícula de matéria existe uma correspondente de antimatéria. A antimatéria é rara e desaparece rapidamente, mas de produção rotineira em laboratórios e hospitais -uma técnica de imageamento do corpo usa a chamada "PET", tomografia por emissão de pósitrons.
Quando uma partícula de matéria e uma de antimatéria se combinam, elas se aniquilam e produzem uma grande quantidade de energia, como raios gama.
"Assim como o elétron e o próton se juntam para formar o hidrogênio atômico (H), um elétron e um pósitron se juntam, ainda que por curta duração, para formar um átomo de positrônio (Ps). Sua existência foi prevista em 1946 pelo físico teórico John Wheeler, e o átomo foi isolado experimentalmente por Martin Deutsch em 1951", comentou o físico Clifford Surko, da mesma universidade em San Diego.
Wheeler também previu a possibilidade de existir uma molécula de positrônio -Ps2 (assim como o hidrogênio molecular é o H2).
Cassidy e Mills conseguiram agora produzir experimentalmente essa molécula, Ps2, ou di-positrônio.
Para isso eles bombardearam um fino filme de sílica com feixes de 20 milhões de pósitrons. O disparo de antimatéria foi rapidíssimo e concentrado em um ponto.
"Os pósitrons se difundem pelos espaços vazios da sílica, onde capturam elétrons para formar átomos de positrônio. Antes que esses átomos possam se aniquilar, eles formam cerca de 100 mil moléculas de Ps2 nas superfícies interiores dos vazios", explica Surko.
Os autores esperam usar técnicas semelhantes e fontes mais intensas de pósitrons para aumentar a densidade do positrônio e atingir o estado da matéria conhecido como condensado Bose-Einstein. A partir disso seria possível produzir um laser com os raios gama obtidos do processo de aniquilação. Mas não estão nos planos usar esse laser em naves espaciais. "Por causa da sua alta energia, esses fótons têm um comprimento de onda muito curto, e poderiam ser usados para sondar objetos pequenos como os núcleos atômicos", diz Surko.


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