São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2008

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Biomas terão vigilância, promete Minc Ministro anuncia programa para monitorar por satélite outras formações vegetais; projeto só tem verba para primeiro ano

Devastação deverá ser acompanhada por meio do satélite Landsat; cerrado é o principal alvo, seguido de mata atlântica e Pantanal

AFRA BALAZINA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Mês a mês, os brasileiros são informados sobre como anda o desmatamento na Amazônia. Até agora, essa é a única floresta monitorada por satélite oficialmente no país. Mas o governo prometeu nesta semana que os outros biomas brasileiros -cerrado, caatinga, mata atlântica e Pantanal e pampa- também serão vigiados.
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, assinou um acordo de cooperação técnica entre a Secretaria de Biodiversidade e Florestas e o Ibama para estender o monitoramento remoto aos "primos pobres" da maior floresta tropical do mundo. O projeto terá R$ 600 mil do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) para seu primeiro ano.
"Para os próximos anos, estamos buscando outros recursos, para que não haja descontinuidade", afirma Maria Cecília Wey de Brito, secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente.
A principal formação a ser acompanhada é o cerrado -segundo maior bioma brasileiro. O Dia do Cerrado ocorreu na última quinta-feira, mas sem muita coisa a comemorar.
Segundo o ministério, estudos recentes indicam que, se o atual ritmo de devastação não for contido, o bioma poderá desaparecer até 2030. É no cerrado que vivem espécies como a onça-pintada, o lobo-guará e o tamanduá-bandeira. Mas o cerrado também é o celeiro do país, e para ele se expandem cada vez mais as monoculturas de soja e cana-de-açúcar.
A divulgação dos dados do projeto de monitoramento deve acontecer no próximo ano. Serão usadas imagens do satélite americano Landsat, processadas pelo Ibama.
O objetivo do projeto, de acordo com o ministério, é verificar onde estão ocorrendo desmatamentos e, dessa forma, intensificar as ações de fiscalização nos biomas.

Mata atlântica
Atualmente, a mata atlântica é monitorada por um projeto da Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). "É importante que o governo também faça. Se a SOS parar de monitorar, quem vai fazer?" -indaga a secretária. Hoje, sabe-se que restam somente cerca de 7% da vegetação original desse bioma, segundo a ONG (24% segundo o ministério, que computa fragmentos florestais em regeneração na sua estimativa).
Mário Mantovani, diretor de mobilização da SOS Mata Atlântica, afirma que é importante o governo fiscalizar e, a partir disso, regular as atividades que nas áreas avaliadas.
Segundo ele, a SOS é estruturada, faz o monitoramento da mata atlântica há muitos anos e tem condição de continuar o trabalho. "Mas já vi muitas entidades começarem e não conseguirem manter", disse.
Mantovani disse considerar positivo que ONGs e pessoas não ligadas ao governo realizem monitoramentos de florestas -caso do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), que vigia a devastação da Amazônia.
Por isso, a SOS e outras diversas entidades ambientalistas iniciaram um mapeamento do Pantanal. "Esse tipo de informação hoje é determinante. Em 1986, quando falávamos que estavam tirando o verde da nossa terra, era algo intuitivo. Mas hoje não, já sabemos onde estão os problemas", afirmou.
Para Mantovani, não é necessário usar metodologia semelhante à do governo -e pode ser até melhor usar métodos distintos. "Quando se compara um com o outro, sempre se aprende", afirmou.


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