São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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Experimento desliga área cerebral e faz rato perder o medo de gato

Estudo pode ajudar a entender melhor os transtornos de ansiedade humanos

RICARDO MIOTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ratos perdem o medo de gatos quando uma pequena área de seus cérebros é lesionada, descobriram cientistas brasileiros. Em estudo na revista "PNAS", os pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) apontam uma parte do hipotálamo -área primitiva do cérebro, associada ao desejo sexual e à fome- como região cerebral importante também no desencadeamento do medo.
O trabalho, baseado em um engenhoso experimento (veja quadro à direita), contraria as teses que defendiam que a regência desse comportamento era exclusividade da amígdala, uma outra estrutura cerebral. Mesmo num cérebro primitivo como o dos ratos, dizem os pesquisadores, existem vários tipos de medo, e várias partes do cérebro estão envolvidas.
A ideia de investigar a estrutura apontada agora -o núcleo premamilar dorsal, no hipotálamo- surgiu de trabalhos anteriores do grupo da USP liderado pelo neurofisiologista Newton Canteras, do Instituto de Ciências Biomédicas.
Segundo o cientista, os ratos lesionados no experimento não perdiam apenas o medo de predadores como gatos, mas também de outros roedores machos com quem disputavam território. Numa outra rodada do teste, um rato macho tinha o privilégio de viver com uma fêmea por três semanas. "Quando o rato já estava se sentindo dono tanto da gaiola quanto da rata", diz Canteras, os cientistas colocavam um outro roedor macho na caixa.
Novamente, os ratos saudáveis ficavam amedrontados. Mas aqueles com cérebros lesionados, não. Mesmo quando eram agredidos pelo rato "dono da gaiola", não se abalavam.
Os estudos que atribuíam o surgimento do medo à amígdala eram feitos de forma diferente. Os ratos recebiam choques nos seus pés quando pisavam em determinadas áreas. Quando colocados, alguns dias depois, perto desses lugares, a atividade da sua amídala aumentava e eles ficavam com receio de pisar lá novamente.
O novo trabalho, porém, indica que isso é mais um tipo de precaução do que medo propriamente dito. Como os circuitos neurais de ratos têm alguma semelhança com os de humanos, entendê-los pode ajudar a elucidar os mecanismos "tanto da ansiedade quanto da síndrome do pânico", diz Norberto Coimbra, da USP de Ribeirão Preto, que não participou do estudo na "PNAS".


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