|
Texto Anterior | Índice
Experimento desliga área cerebral e faz rato perder o medo de gato
Estudo pode ajudar a entender melhor os transtornos de ansiedade humanos
RICARDO MIOTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ratos perdem o medo de gatos quando uma pequena área
de seus cérebros é lesionada,
descobriram cientistas brasileiros. Em estudo na revista
"PNAS", os pesquisadores da
Universidade de São Paulo
(USP) apontam uma parte do
hipotálamo -área primitiva do
cérebro, associada ao desejo sexual e à fome- como região cerebral importante também no
desencadeamento do medo.
O trabalho, baseado em um
engenhoso experimento (veja
quadro à direita), contraria as
teses que defendiam que a regência desse comportamento
era exclusividade da amígdala,
uma outra estrutura cerebral.
Mesmo num cérebro primitivo
como o dos ratos, dizem os pesquisadores, existem vários tipos de medo, e várias partes do
cérebro estão envolvidas.
A ideia de investigar a estrutura apontada agora -o núcleo
premamilar dorsal, no hipotálamo- surgiu de trabalhos anteriores do grupo da USP liderado pelo neurofisiologista
Newton Canteras, do Instituto
de Ciências Biomédicas.
Segundo o cientista, os ratos
lesionados no experimento não
perdiam apenas o medo de predadores como gatos, mas também de outros roedores machos com quem disputavam
território. Numa outra rodada
do teste, um rato macho tinha o
privilégio de viver com uma fêmea por três semanas. "Quando o rato já estava se sentindo
dono tanto da gaiola quanto da
rata", diz Canteras, os cientistas colocavam um outro roedor
macho na caixa.
Novamente, os ratos saudáveis ficavam amedrontados.
Mas aqueles com cérebros lesionados, não. Mesmo quando
eram agredidos pelo rato "dono
da gaiola", não se abalavam.
Os estudos que atribuíam o
surgimento do medo à amígdala eram feitos de forma diferente. Os ratos recebiam choques
nos seus pés quando pisavam
em determinadas áreas. Quando colocados, alguns dias depois, perto desses lugares, a atividade da sua amídala aumentava e eles ficavam com receio
de pisar lá novamente.
O novo trabalho, porém, indica que isso é mais um tipo de
precaução do que medo propriamente dito. Como os circuitos neurais de ratos têm alguma semelhança com os de
humanos, entendê-los pode
ajudar a elucidar os mecanismos "tanto da ansiedade quanto da síndrome do pânico", diz
Norberto Coimbra, da USP de
Ribeirão Preto, que não participou do estudo na "PNAS".
Texto Anterior: Supremo julgará proteção às cavernas Índice
|