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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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BIOTECNOLOGIA

Cópias da vaca Vitória, aparentemente saudáveis, morreram de pneumonia e falha em placenta, diz Embrapa

Problema no parto mata "clone do clone"

Embrapa/Divulgação
Clone da vaca clonada Vitória, que morreu 36 horas após o parto


REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Problemas na placenta e durante o parto causaram a morte das duas bezerras que eram cópias genéticas da vaca Vitória, o primeiro clone feito na América Latina, informou ontem a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Um dos animais sobreviveu só 36 horas depois do nascimento, enquanto o outro morreu no oitavo mês de gestação.
Não há ainda uma explicação conclusiva para as mortes, mas em pelo menos um dos casos o fato de a bezerra ser um clone pode ter sido o fator principal.
As duas bezerras tinham sido criadas a partir de células da pele da orelha de Vitória, numa técnica semelhante à usada para criar a ovelha Dolly, e foram implantadas em duas "mães de aluguel" diferentes. De acordo com o criador de Vitória, o veterinário Rodolfo Rumpf, 43, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, foi preciso implantar 34 embriões para obter as duas gestações.
Em um dos casos, houve uma retenção excessiva de líquido na placenta (a bolsa que envolve e protege o feto) e no útero no oitavo mês de gestação -o processo todo dura nove meses em bovinos. Os pesquisadores fizeram uma cesariana, mas o feto já estava morto. "É uma patologia mais comum em clones, mas não aparece só neles", explicou Rumpf.
A outra bezerra, que nasceu no último dia 9, inspirou líquido durante o parto e pegou uma pneumonia, morrendo 36 horas depois. Ambos os animais tinham tamanho e peso normais e aparentavam boa saúde, de acordo com Rumpf. "No caso da bezerra que nasceu, os pulmões estavam normais", conta o veterinário.
"Durante a cesariana, a mãe estava muito agitada e isso deve ter feito com que a bezerra respirasse antes da hora, inalando o líquido", afirma Rumpf. Para ele, o problema com as gestações não ocorreu porque as bezerras eram clones de um clone, mas pelas dificuldades comuns da técnica.
"Não é nada surpreendente. O surpreendente é quando dá certo", concorda a bióloga Lygia da Veiga Pereira, da USP. "Até agora, só foram registrados "clones de clones" viáveis em camundongos", afirma a pesquisadora, que estuda os problemas genéticos dos animais clonados.
Uma das possibilidades é que alterações geradas pela chamada estampagem genética (o processo pelo qual o organismo utiliza de formas diferentes o DNA que vem do pai e o que vem da mãe) tenham causado os problemas na placenta de uma das bezerras.
"Tudo isso nós ainda temos de estudar", diz Rumpf.


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