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Transgênico mata uma praga e traz outra
Estudo chinês mostra que algodão Bt acabou com lagartas, mas que plantações foram invadidas depois por percevejos
Inseto, que não era alvo da
toxina inserida na planta,
não só afetou lavouras de
algodão como também se
espalhou pela fruticultura
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A adoção de uma variedade
de algodão transgênico por fazendeiros chineses permitiu
controlar as lagartas que são a
principal ameaça a essa cultura, mas foi vítima de uma reviravolta ecológica: um percevejo
outrora inofensivo virou praga.
Presente na China há mais de
uma década e aprovado para
uso no Brasil só em 2009, o algodão transgênico Bt desfrutou
de algumas boas safras.
Agora, porém, a praga emergente afeta a produtividade do
vegetal e se espalha também
para o cultivo de frutas, afirma
um estudo de cientistas da Academia Chinesa de Agronomia.
Em artigo na revista "Science", o grupo mostra que os algodoeiros Bt estão enfrentando
problemas pelo motivo inverso
ao qual vinham sendo criticados por ambientalistas.
Por muito tempo, transgênicos dessa variedade foram acusados de prejudicar insetos carismáticos, como a borboleta-monarca. Os percevejos mirídeos que viraram praga na China, porém, bem poderiam ter
entrado nessa categoria antes.
As plantas Bt são resistentes
a algumas pragas porque têm
incorporado em seu DNA um
gene da bactéria Bacillus thuringiensis, produtora de toxina
letal para certos insetos. Percevejos mirídeos, porém, não são
afetados pelos transgênicos.
"Antes da adoção do algodão
Bt, um inseticida de amplo espectro contra [a lagarta] Helicoverpa armigera reduzia as
populações de mirídeos; plantações de algodão atuavam como armadilhas sem saída", escrevem o cientista Yuyuan Go e
seus colegas na "Science".
O grupo, porém, não defende
que a solução para o problema
seja uma volta ao uso de agrotóxicos químicos do tipo mata-tudo, que costumam gerar danos ambientais mais graves. A
solução, dizem, é investir no
"manejo integrado de pragas"
para não ter de abrir mão dos
benefícios que o Bt trouxe, como evitar pragas resistentes.
"No tratamento com inseticidas, às vezes é preciso usar
três ou quatro tipos diferentes", afirma Olívia Arantes, geneticista da Embrapa Meio
Ambiente especialista em Bt.
Segundo ela, é improvável que
o Bt também fosse se revelar
uma solução para uso solitário.
Antes de ser incorporada aos
transgênicos, a toxina da bactéria era borrifada diretamente
nas plantas. O receio de as pragas evoluírem criando resistência ao Bt, segundo ela, é pequeno, pois existem muitas variedades da proteína que constitui a toxina, permitindo que
os produtores se adaptem.
Na China, o algodão Bt teve
tanto sucesso no fim da década
de 1990 que se disseminou até
conquistar 95% das fazendas
dessa cultura. No Brasil, as estatísticas são incertas, porque
esse transgênico começou a ser
plantado de forma "pirata" antes da aprovação. Agora, as empresas Monsanto e Dow já podem comercializar a planta Bt.
A Embrapa desenvolve novas
variedades, ainda em teste.
Segundo Arantes, para o país
se beneficiar dessa tecnologia,
é preciso dar atenção ao estudo
de interações ecológicas entre
pragas, disciplina que lida justamente com efeitos como o
ocorrido na China. "Essa é uma
área de pesquisa que já está
bastante ampla", afirma.
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