São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2004

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ASTRONOMIA

Descoberta encerra uma polêmica de sete anos

Estrela gigante tem companheira escondida, confirmam brasileiros

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Agora dá para dizer: a estrela mais maciça da Via Láctea são duas. A constatação é de uma dupla de pesquisadores brasileiros. Coletando dados num modesto observatório em Minas Gerais, eles acabam encerrar uma polêmica de sete anos para definir quantos astros há em Eta Carinae.
Os dados foram obtidos no Observatório Pico dos Dias, do Laboratório Nacional de Astrofísica, em Brazópolis. Pela primeira vez, os astrônomos conseguiram detectar a "assinatura" de átomos de hélio ionizados na luz proveniente daquele objeto. "A importância desse sinal, ainda que fraco, é que ele precisa de uma fonte muito energética para ser produzido, o que a estrela visível em Eta Carinae não é capaz de produzir", diz Augusto Damineli, cientista do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP e co-autor do estudo, a ser publicado no "Astrophysical Journal Letters" (www.journals.uchicago.edu/ApJ).
Damineli realizou a pesquisa em parceria com João Steiner, no que está se tornando uma especialidade brasileira. "Com ele, já são 11 pesquisadores do IAG que publicam algo sobre Eta Carinae."
E foi o próprio Damineli quem deu o pontapé inicial na polêmica, propondo a hipótese de que a estrela é binária. Foi a explicação que ele encontrou, em 1997, para um estranho fenômeno observado no objeto -ele sofria "apagões" periódicos. O brasileiro calculou que esses apagões deveriam ocorrer a cada 5,5 anos, por ocasião da passagem de uma das estrelas na frente da outra, com relação à Terra. Mas nem todo mundo recebeu bem a hipótese.
Kris Davidson, astrônomo da Universidade de Minnesota (EUA) e outro grande estudioso de Eta Carinae, tinha um modelo alternativo para explicar os apagões. No ano passado, os dois resolveram reunir forças e requisitar tempo de observação no Telescópio Espacial Hubble. "Os dados do Hubble vão levar décadas para serem processados, pois são muito complexos", diz Damineli.
A hipótese da estrela binária já havia recebido um empurrão em 2003, quando mais um apagão da estrela aconteceu, exatamente como previsto por Damineli.
Embora Eta Carinae nem esteja tão longe assim (cerca de 8.000 anos-luz), é impossível observar com clareza os objetos em seu interior -uma imensa nuvem de gás e poeira os envolve.
Agora, a "assinatura" do hélio parece encerrar a questão sobre quantas estrelas há ali. A ionização (perda ou ganho de elétrons pelos átomos) observada pelos cientistas só poderia ser produzida por uma estrela companheira.
Além de confirmar sua natureza binária, a detecção dos traços de hélio permitiu determinar a órbita exata de uma estrela ao redor da outra. Também foi possível confirmar que a estrela está na fase final de sua vida. Em breve (na escala de tempo astronômica), ela deve se tornar uma hipernova, numa explosão como a humanidade nunca viu na Via Láctea.
Juntas, as duas estrelas têm uma massa estimada ao redor de cem vezes a do Sol. O futuro da pesquisa, segundo Damineli, é determinar o tamanho exato das duas.

Hubble
A Nasa não deve descartar o envio de uma missão para consertar o telescópio Hubble, afirmou um painel de especialistas constituído pela agência espacial americana.
"A Nasa não deve realizar ações que excluam uma viagem do ônibus espacial ao Telescópio Espacial Hubble", disse o chefe do painel, Louis Lanzerotti, ao diretor da agência, Sean O'Keefe.
Sem reparos, o Hubble deve perder sua capacidade operacional em 2007 ou 2008.


Com Reuters


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