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COPENHAGUE 2009
Ambientalista conquista igrejas
McKibben ajudou a coordenar protestos em centenas de cidades pedindo ousadia em acordo do clima
Propostas apresentadas em Copenhague até agora são fracas porque negociadores usam ciência desatualizada, diz criador de campanha
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A COPENHAGUE
Bill McKibben está indo à
igreja. Mas não é que o ambientalista americano conte com intervenção divina para salvar o
acordo de Copenhague: ele sabe que não sairá daqui o acordo
capaz de deter o aquecimento
global. O que o fundador da
campanha 350 planeja é envolver fiéis do mundo todo em manifestações pedindo ação no
clima, como a que aconteceu
anteontem em centenas de cidades ao redor do planeta.
Um dos organizadores dos
protestos do domingo, McKibben fundou em 2008 uma campanha para pedir aos políticos
que a concentração de gás carbônico na atmosfera seja estabilizada em 350 ppm (partes
por milhão), não em 450, como
se negocia em Copenhague
(hoje o mundo está em 385).
Numa caminhada rumo à igreja
de Nossa Senhora, em Copenhague, o ativista disse à Folha
que está longe de seu objetivo.
"Se você somar todas as metas postas sobre a mesa, em
2100 teremos 760 ppm", disse.
Em apoio à campanha, o sino
da igreja soou ontem 350 badaladas. Leia a entrevista.
FOLHA - Que impacto o sr. espera
que os protestos tenham sobre a negociação em Copenhague?
BILL McKIBBEN - É uma boa pergunta. Por um lado, Copenhague me parece muito diferente
do Protocolo de Kyoto, precisamente porque há um grande
movimento global pedindo
ação. Agora, se isso está acontecendo a tempo de ter algum
efeito sobre a discussão que se
dá daqui até o fim da semana eu
não sei. Porque os EUA e a China são os obstáculos e têm políticos difíceis de pressionar.
Claramente o resultado o
desta semana não vai ser o que
esperávamos; neste momento,
se você somar todas as metas
postas sobre a mesa, em 2100
teremos 760 partes por milhão
de CO2 na atmosfera. E isso é
ruim! Por outro lado, sabemos
que este não será o fim da história. Ninguém vai produzir
um tratado vinculante ou algo
assim aqui, então vamos manter esse movimento crescendo
dramaticamente. As pessoas
vão olhar para o que estão fazendo e vão ficar com raiva.
FOLHA - Eu ouvi isso ontem de pessoas na rua.
McKIBBEN - As pessoas na rua
sabem muito mais ciência do
que as pessoas na sala de conferências. Todo mundo na sala
ainda trabalha com ciência de
quatro ou cinco anos atrás. Isso
é antes de o Ártico ter derretido
[em 2007]. Eles estão fazendo o
fácil, não o necessário. Não estamos nem perto de onde precisamos. O que precisa acontecer é muito difícil e governo nenhum quer fazê-lo, exceto as
Maldivas. Não é surpresa que
não vamos conseguir, mas continuaremos tentando.
FOLHA - Nesse sentido, é de certa
forma bom que Copenhague falhe,
porque ninguém ficaria preso a um
tratado que o fácil e não o preciso.
McKIBBEN - Não sou analista político, não sei o que é bom ou
ruim. Só sei que continuaremos
em frente, não importa o que
aconteça aqui.
FOLHA - Não há um risco no adiamento? O risco de a resistência dos
EUA a um tratado crescer depois.
McKIBBEN - O maior risco é que
o planeta está aquecendo muito depressa e a cada ano que
passa sem que façamos algo o
dano aumenta. Mas os riscos
políticos são reais também. Os
EUA podem ir de 60 senadores
democratas para 55. E nunca
teremos 67 votos [mínimo necessário para aprovar um tratado internacional], e é por isso
que as pessoas estão se pegando a essas formulações absurdamente complicadas como
"politicamente vinculante".
FOLHA - Quando o sr. decidiu a convocar esses protestos?
McKIBBEN - A ideia surgiu alguns anos atrás, e em 2007 nós
tentamos com sucesso fazer
com que Barack Obama tivesse
ao menos uma posição forte sobre clima, mas depois que o Ártico derreteu resolvemos que
teria de ser algo global.
FOLHA - O que Obama vai trazer a
Copenhague?
McKIBBEN - Tenho certeza de
que ele fará um bom discurso
(risos). Mas não sei se trará
muita coisa além disso.
FOLHA - O caso dos e-mails roubados terá algum impacto sobre a posição dos EUA nesta negociação?
McKIBBEN - Há muitos interesses envolvidos nisso. Acho difícil acreditar como alguém possa levar isso a sério. Porque o tipo de conspiração que eles [negadores do aquecimento global] alegam existir envolve não
só cientistas, mas também convencer as geleiras a derreter.
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