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Em dez anos, perda de gelo antártico aumentou 75%
Déficit entre ganho e perda de neve foi de 192 bilhões de toneladas só em 2006
Situação é pior no lado oeste do continente -onde fica a base brasileira-, mas para os autores do estudo não existe nenhuma área imune
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
As grandes geleiras no oeste
da Antártida estão derretendo
e perdendo massa para o mar
cada vez mais rápido. Segundo
levantamento divulgado ontem, em dez anos, o aumento da
perda de gelo do continente para o mar foi de 75%.
"A mudança na temperatura
do oceano ao redor do continente antártico é a principal razão para explicar esse processo", disse à Folha Eric Rignot,
do Instituto de Tecnologia da
Califórnia, em Pasadena, autor
de estudo sobre o problema publicado anteontem na revista
"Nature Geoscience".
O trabalho revela uma estimativa sombria, já que a manutenção do gelo continental da
Antártida é fundamental para
evitar um aumento exagerado
do nível do mar -já considerado inevitável até certo ponto.
Em 2006, o balanço entre a
chegada de neve nas montanhas que ficam na plataforma
de gelo no oeste da Antártida e
a perda dela para o mar teve recorde negativo. Foram 132 bilhões de toneladas de gelo a
mais escoando para a água. A
comparação com 1996 mostra
um aumento de 59% de perda
de gelo continental.
Na Península Antártica, onde está a base de pesquisa do
Brasil, o declínio também foi
grande: 60 bilhões de toneladas. Todos os cálculos foram
feitos a partir de imagens de satélite cobrindo 85% do litoral
do continente gelado.
"Se colocarmos isso em perspectiva, 4 toneladas de gelo seria o suficiente para fornecer
água para todos os moradores
do Reino Unido durante um
ano", disse Jonathan Bamber,
pesquisador da Universidade
de Bristol, na Inglaterra, que
também participou do estudo.
Os dois cientistas, apesar da
cautela, não hesitam em colocar a mudança climática como
forte candidata à nova controladora dos "escorregadores"
antárticos, as encostas de gelo
junto à linha litorânea.
"A temperatura do mar muda porque a mudança de temperatura na atmosfera altera a
circulação de ventos na região.
E isso pode estar relacionado
com as mudanças climáticas
globais", afirma Rignot.
Sem imunidade
Do lado leste da Antártida, os
escorregadores não estão em
alta rotação (perda e ganho de
gelo), diz Rignot, mas isso não é
algo imutável para sempre.
"Até agora esta parte da Antártida não mudou muito. Mas
algumas regiões, mais propícias às mudanças, dão sinais de
que poderão sofrer alterações
em breve", disse o cientista.
Para o pesquisador, é preciso
prestar atenção nesta região
também. "É claro que ela não
está imune a sofrer mudanças."
De acordo com Bamber é
complicado fazer qualquer tipo
de previsão para os próximos
dez anos. "Nós não ficaremos
surpresos se essas perdas continuarem ou até mesmo aumentarem bastante nos próximos anos, mas é muito difícil
colocar uma probabilidade de
ocorrência nisso".
Segundo o cientista, é também provável que a perda de
massa de gelo possa até ser menor na próxima década.
No ano passado, a rotação
dos escorregadores antárticos
também surpreendeu os cientistas brasileiros que estudam a
Península Antártica, região que
teve uma temperatura média
5C mais quente, nos últimos
50 anos. Entre 2001 e 2005, 30
geleiras perderam, em média,
4.000 m2 em área, segundo o
estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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