São Paulo, terça-feira, 15 de janeiro de 2008

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Em dez anos, perda de gelo antártico aumentou 75%

Déficit entre ganho e perda de neve foi de 192 bilhões de toneladas só em 2006

Situação é pior no lado oeste do continente -onde fica a base brasileira-, mas para os autores do estudo não existe nenhuma área imune

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

As grandes geleiras no oeste da Antártida estão derretendo e perdendo massa para o mar cada vez mais rápido. Segundo levantamento divulgado ontem, em dez anos, o aumento da perda de gelo do continente para o mar foi de 75%.
"A mudança na temperatura do oceano ao redor do continente antártico é a principal razão para explicar esse processo", disse à Folha Eric Rignot, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena, autor de estudo sobre o problema publicado anteontem na revista "Nature Geoscience".
O trabalho revela uma estimativa sombria, já que a manutenção do gelo continental da Antártida é fundamental para evitar um aumento exagerado do nível do mar -já considerado inevitável até certo ponto.
Em 2006, o balanço entre a chegada de neve nas montanhas que ficam na plataforma de gelo no oeste da Antártida e a perda dela para o mar teve recorde negativo. Foram 132 bilhões de toneladas de gelo a mais escoando para a água. A comparação com 1996 mostra um aumento de 59% de perda de gelo continental.
Na Península Antártica, onde está a base de pesquisa do Brasil, o declínio também foi grande: 60 bilhões de toneladas. Todos os cálculos foram feitos a partir de imagens de satélite cobrindo 85% do litoral do continente gelado.
"Se colocarmos isso em perspectiva, 4 toneladas de gelo seria o suficiente para fornecer água para todos os moradores do Reino Unido durante um ano", disse Jonathan Bamber, pesquisador da Universidade de Bristol, na Inglaterra, que também participou do estudo.
Os dois cientistas, apesar da cautela, não hesitam em colocar a mudança climática como forte candidata à nova controladora dos "escorregadores" antárticos, as encostas de gelo junto à linha litorânea.
"A temperatura do mar muda porque a mudança de temperatura na atmosfera altera a circulação de ventos na região. E isso pode estar relacionado com as mudanças climáticas globais", afirma Rignot.

Sem imunidade
Do lado leste da Antártida, os escorregadores não estão em alta rotação (perda e ganho de gelo), diz Rignot, mas isso não é algo imutável para sempre.
"Até agora esta parte da Antártida não mudou muito. Mas algumas regiões, mais propícias às mudanças, dão sinais de que poderão sofrer alterações em breve", disse o cientista.
Para o pesquisador, é preciso prestar atenção nesta região também. "É claro que ela não está imune a sofrer mudanças."
De acordo com Bamber é complicado fazer qualquer tipo de previsão para os próximos dez anos. "Nós não ficaremos surpresos se essas perdas continuarem ou até mesmo aumentarem bastante nos próximos anos, mas é muito difícil colocar uma probabilidade de ocorrência nisso".
Segundo o cientista, é também provável que a perda de massa de gelo possa até ser menor na próxima década.
No ano passado, a rotação dos escorregadores antárticos também surpreendeu os cientistas brasileiros que estudam a Península Antártica, região que teve uma temperatura média 5C mais quente, nos últimos 50 anos. Entre 2001 e 2005, 30 geleiras perderam, em média, 4.000 m2 em área, segundo o estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


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