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Estudo vê risco de epidemia de HIV resistente a drogas
Vírus que não cede a tratamento começa a se espalhar em países desenvolvidos
Previsão saiu de modelo matemático da transmissão do patógeno nos EUA, mas médica já se diz preocupada com infecções na África
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O aumento da circulação de
variantes do HIV resistentes ao
tratamento com antirretrovirais nos EUA pode provocar
uma epidemia desse tipo de
"supervírus" com início nos
países desenvolvidos. O alerta é
de um estudo publicado na edição de hoje na revista "Science", que analisou a dinâmica de
transmissão do vírus em San
Francisco, na Califórnia.
Nos últimos 20 anos, a presença do vírus resistente cresceu de forma significativa na cidade, assim como na maioria
dos países ricos, onde o tratamento com antirretrovirais é
comum. Como os soropositivos
podem transmiti-lo para mais
de uma pessoa, os pesquisadores afirmam que a ameaça de
epidemia nesses países é real.
Para mapear a evolução do
HIV em São Francisco, os cientistas criaram um modelo matemático com os dados das infecções nas últimas duas décadas. A simulação considerou a
transmissão dos três tipos de
HIV resistentes aos principais
antirretrovirais do mercado. A
partir dessas informações
identificaram os fatores do tratamento que levaram à resistência aos medicamentos.
O modelo mostrou que muitos dos HIV resistentes, que
têm evoluído nos últimos dez
anos, são transmitidos de uma
pessoa para outra mais facilmente do que se acreditava. Essa nova dinâmica, dizem os
cientistas, tem potencial para
provocar uma nova onda de resistência aos medicamentos.
Embora os remédios tenham
conseguido manter a taxa de
transmissão do HIV resistente
abaixo de 15% do que seria esperado, cerca de 60% dos vírus
desse tipo têm potencial para
causar epidemias autossustentáveis caso saiam do controle.
"Este estudo não é só sobre
San Francisco. É basicamente
sobre muitas outras comunidades de países ricos e tem implicações significativas para a saúde global", afirmou Sally Blower, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, líder da
pesquisa em comunicado à imprensa. Segundo ela, o modelo
matemático aplicado à cidade
pode ser transposto para "qualquer outro lugar", desde que
feitas adaptações necessárias.
Migração viral
Uma das maiores preocupações dos cientistas agora é a
disseminação do vírus resistente aos tratamentos nos países
pobres. A chegada desse tipo
HIV a locais onde o acesso aos
medicamentos é difícil e as políticas de saúde pública são limitadas pode anular os recentes avanços conquistados em
áreas mais atingidas pelo HIV,
como a África do Sul.
Por enquanto, não há dados
sobre a presença do vírus resistente nos países mais pobres.
De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), o
principal empecilho é a falta de
informações confiáveis sobre
saúde pública nessas nações.
A insistência da entidade em
tratar de maneira semelhante
todos os infectados pelo HIV
foi alvo de críticas de Blower.
"O mais inquietante é que nosso modelo mostra que a estratégia atual para a eliminação do
HIV proposta pela OMS inadvertidamente pode piorar as
coisas e aumentar significativamente os níveis de resistência
aos medicamentos em muitos
países africanos", afirmou a
pesquisadora americana.
De acordo com os cientistas,
o modelo aplicado na pesquisa
pode ser usado para o estudo da
dinâmica de outras doenças resistentes a tratamentos.
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